sexta-feira, 14 de abril de 2017

A História da Páscoa e suas diversas tradições

A Páscoa é uma festa - e/ou celebração - de cunho religioso, e que faz parte de mais de uma religião, bem como também do calendário de festas mundiais, como veremos melhor neste artigo...

Tudo começou com os judeus, ainda na Antiguidade, quando estes, por volta de 1440 a.C., ainda eram escravos no antigo Egito. Quando seu Deus, Jeová, disse que iria auxiliá-los em sua saída do Egito, os judeus receberam algumas regras e, dentre elas, a principal seria a de passar, nos umbrais das portas de suas casas, o sangue de um cordeiro que deveria ser ter sido imolado, mais cedo, naquele mesmo dia. Assim, o anjo da morte que viria, àquela mesma noite, imolar os primogênitos dos egípcios (sendo esta a última de 10 pragas - e a pior delas todas - que Jeová havia derramado sobre o Egito, com o intuito de amolecer o duro coração do faraó egípcio). Sendo este faraó ninguém menos do que Ramsés II, também chamado de "o Grande", eles tinham uma grande "pedreira" pela frente. E esta acabou sendo a primeira Páscoa, até hoje comemorada pelo Judaísmo, sendo conhecida como "Pessach"...





Já para o Cristianismo, o Pessach é citado no Antigo Testamento, bem como a própria Páscoa cristã se inicia com este antigo "Pessach", já que os fatos ocorridos com Jesus Cristo se deram exatamente durante as comemorações desta festa judaica.

Porém, os fatos que se desenrolaram com o messias acabaram por dar os contornos da futura festa máxima do Cristianismo. Ou seja, o que era uma festa sobre o Pessach (cujo significado é "passagem", vinda do hebraico), tornou-se a Páscoa do cordeiro, Jesus Cristo, para os cristãos. Na tradição católica, Jesus era o filho de Deus, o messias, que foi enviado para morrer e redimir os pecados da humanidade, ressuscitando logo em seguida, depois de três dias...




Os fatos se deram da seguinte forma, seguindo a tradição cristã: 


Uma semana antes da Páscoa, ocorreu o chamado Domingo de Ramos, onde o pregador Jesus é recebido com festa pela população de Jerusalém, que agitava ramos para o visitante, que vinha montado num burrinho.



No final de semana seguinte, após alguns episódios que foram deixando os poderosos de Jerusalém extremamente apreensivos e indignados, Jesus sabia dos episódios que ele iria enfrentar. Na noite da quinta-feira Jesus teve uma ceia com seus doze apóstolos, cena conhecida e bem difundida em todo o mundo, principalmente do ocidental, sendo a mais conhecida esta que segue logo abaixo, o afresco "A Última Ceia", de Leonardo da Vinci.




Após a ceia, Jesus e seus discípulos seguiram para o Horto das Oliveiras, onde, segundo a tradição cristã, Jesus foi tentado pelo demônio e tentou fazer com que Deus, seu pai, lhe tirasse da responsabilidade de fazer o que deveria ser feito (ou seja, ser torturado, morrer na cruz e ressuscitar para redimir os pecados da humanidade). Como Deus não demoveu de sua ideia, Cristo resignou-se a vontade de seu pai, seguindo com o plano celeste. Sendo assim, foi também no Horto, logo em seguida, que Jesus foi traído por Judas Iscariotes, um de seus discípulos, e foi preso pela guarda romana, sendo levado aos fariseus para um julgamento...




Após ser julgado pelo romano Pilatos, depois de um aval dos fariseus (que disseram que Jesus se dizia rei e, se assim fosse, ele estaria se dizendo acima do imperador romano), Jesus foi condenado a ser flagelado, carregar sua cruz pelas ruas de Jerusalém, e, por fim, ser crucificado sobre o morro do Gólgota ("lugar da caveira" em hebraico)...




Já na sexta-feira à tarde, por volta de 15 horas, Jesus, após carregar sua cruz e de ser crucificado e ridicularizado pela guarda romana, morreu na cruz. Segundo a tradição cristã, raios e trovões riscaram e ribombaram nos céus, e o véu do tempo se rasgou...



Após ser sepultado, na noite de sexta-feira, Jesus ressuscitou dos mortos na manhã de domingo, doravante sendo este dia conhecido por Domingo de Páscoa...


Você deve estar se perguntando onde, nessa história toda, entra o coelhinho da Páscoa e seus ovinhos de chocolate, não é mesmo? Bom, para explicá-la existe um caldeirão de influências e tradições, que tentaremos, aqui, explicar de forma sucinta. 

O ovo é símbolo de nova vida desde o antigo Egito, daí ter, de alguma forma, ligado à Páscoa, mesmo à cristã, uma vez que Jesus trouxe uma nova vida aos humanos. Já os coelhos eram, na Antiguidade, ligados às estações da Lua (que definia, ela mesma, a própria data da Páscoa), bem como a fertilidade desses bichinhos sempre foi notória (eles têm vida em abundância). A lenda de que eram estes bichinhos que traziam os ovos para as crianças vem do século XVIII, onde uma mãe coloriu alguns ovos de galinha para presentear seus filhos e, quando eles acharam os ovos, um coelho passou por eles, correndo, logo se espalhando a história de que eram eles que traziam os ovos de Páscoa. E, por fim, a transição se ovos de galinha coloridos para ovos de chocolate se deu devido à invenção destes pelas pâtissiers francesas, no século XIX, já durante a Revolução Industrial.


É isso. Espero que tenham curtido essa viagem pela rica história da Páscoa. E que todos tenham uma feliz e santa Páscoa!!! 

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Bandeirantes, jesuítas, indígenas e imigrantes: a história de São Paulo através de suas rodovias

As estradas estão no âmago da história da cidade de São Paulo, a começar pela sua própria localização. O que eram tão somente os chamados de Campos de Piratininga acabou tendo início um povoado, que se iniciou com um colégio de jesuítas, fundado em 25 de janeiro de 1554 (e, por isso mesmo, consagrado a São Paulo, já que 25 de janeiro é o dia da conversão do santo), e colocado acima de um platô triangular - o depois conhecido "Triângulo Histórico". Logo a localidade se integrou ao chamado "Caminho do Peabiru", uma extensa estrada de índios da região, cujo o tráfego ficava dentro do litoral sul do Brasil, e tinha uma de suas saídas em São Vicente, no litoral de São Paulo (passando pela vila homônima, acima da Serra do Mar), e a outra do litoral do Paraná, seguindo , depois sertão adentro, indo até as cercanias da atual cidade de Assunção, no Paraguai.



Se sua história inicial já era assim, durante o passar dos séculos as rodovias continuaram a ter uma importância cabal pros paulistas. Tanto é assim que, devido à elas - ou melhor, à criação delas (para servir às suas buscas por riquezas e ao chamado apresamento indígena) - aparecem os primeiros caminhos de bandeirantes, nos séculos XVII e XVIII. E é por eles que começaremos nossa viagem pelas estradas de São Paulo...

1) Antonio Raposo Tavares

Foi um português que veio para a colônia e que se radicou em São Paulo. Como tinha vindo se aventurar, atrás da fortuna, foi fazer o que mais poderia render aos paulistanos de então: seguir para o sertão em busca de riquezas (e apresando índios pelo caminho). Ele e sua bandeira foram o terror de índios do Guaíra (o atual Paraná), das regiões de Santa Catarina e do Mato Grosso do Sul, bem como do Tapes (o atual Rio Grande do Sul). Em sua última bandeira, diz-se que ele chegou nas cercanias do atual Peru, próximo a Cordilheira dos Andes, tendo seguido, daí, para a região norte do Brasil.

Devido à direção de uma de suas primeiras bandeiras, a própria Rodovia Raposo Tavares perfaz, em nossos dias, o próprio caminho seguido pelo homenageado e seu grupo de bandeirantes.




2) Fernão Dias Paes Leme 

Foi um paulista que quis fazer fortuna achando ouro e pedras preciosas, resolvendo se aventurar com sua bandeira - um verdadeiro "potentado em arcos", forma mais branda de mensurar a quantidade enorme de índios que ele tinha em sua fazenda. Seguiu para o norte e, curiosamente, podemos dizer que o conhecido "Caçador de Esmeraldas", mesmo não tendo achado seus veios maravilhosos, estava certo em suas suposições, uma vez que a região que explorou - a das futuras Minas Gerais - tinha mesmo muito ouro e pedras preciosas, coisa que foi comprovada em fins do século XVIII.

Não é à toa, portanto, que a estrada que sai de São Paulo em direção ao norte e à Minas Gerais, tenha sido nomeada, em sua homenagem, como Rodovia Fernão Dias. Era uma figura tão importante da São Paulo do século XVII que, como medida disso, podemos citar que seu corpo está, até hoje, sepultado na cripta do Mosteiro de São Bento, num jazigo perpétuo, devido aos serviços prestados à cidade e na construção do próprio mosteiro.





3) Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera 

Nascido em Santana de Parnaíba, no século XVII, o paulista Bartolomeu Bueno da Silva, era um sertanista que ficou sabendo de muito ouro sob o poder de índios do sertão. Através dos rios, em especial do Tietê (então chamado de Anhambi), seguiu na direção dessas tribos e, através de um truque muito bem bolado, conseguiu tanto saber o local de onde extraíam o ouro, quanto também acabou por escravizar os próprios índios depois. Seu truque foi pegar uma garrafa de cachaça, jogar um pouco num prato e botar fogo em frente a muitos índios boquiabertos, dizendo que sabia por fogo em água e que faria o mesmo com as águas dos rios de suas aldeias, ganhando por isso o apelido de Anhanguera ("diabo velho" em tupi). 
  
A estrada que segue para o oeste do estado, saindo de São Paulo, segue boa parte da rota do bandeirante e sertanista e foi batizada com seu nome (ou melhor, com seu apelido), sendo a Rodovia Anhanguera.



4) Os Bandeirantes 

Essas figuras históricas tão importantes na história da São Paulo dos século XVII e XVIII desbravaram sertões, apresaram índios e buscaram por ouro. Suas primeiras rotas seguiram na direção oeste e, pelo caminho, foram fundando cidades, tais como Santana de Parnaíba, Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Sorocaba, Piracicaba e Itu. 
  
Outra estrada importantíssima que, junto com a Anhanguera, segue para este mesmo oeste, foi nomeada como Rodovia dos Bandeirantes.




Está no momento de apresentarmos outro tipo de personagem histórico que se liga às estradas de São Paulo. Estamos falando dos jesuítas, presentes desde os tempos da fundação, ainda no século XVI, e tão ligados, como sempre, tanto à vila do planalto, quanto aos povoamentos do litoral. Vem daí sua grande ligação com estradas do litoral paulista...

5) Padre Manoel da Nóbrega 

Figura histórica ligada a criação da primeira missão jesuítica na América portuguesa, este padre jesuíta português foi um dos maiores responsáveis pela criação de colégios no nordeste - em Salvador - e no sudeste - em São Vicente e São Paulo - ainda no século XVI. Foi no sudeste que mais viveu e trabalhou, em especial no litoral e acima da Serra do Mar, em São Paulo, tendo morrido no Rio de Janeiro.  
  
Devido a sua grande importância na catequização de tribos que viviam no litoral, mais ao sul, a estrada que passa por cidades como São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe - seguindo pelo litoral sul de São Paulo - só podia mesmo ser a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega.



6) Padre José de Anchieta 

Outro jesuíta notório dos primeiros momentos da colônia, o padre jesuíta espanhol José de Anchieta trabalhou na Bahia, em São Paulo (a maior parte de sua vida no Brasil), e terminou-a na região do atual Espírito Santo. Foi quem efetivamente acabou tocando o Colégio de São Paulo, após sua fundação. Viveu entre o planalto e o litoral, catequizando em ambas as localidades.   
  
Assim sendo, a Rodovia Anchieta é a estrada que economizou o tempo dos paulistas - e de seus automóveis - no exato trajeto que o próprio Anchieta vivia fazendo...




Ainda com relação ao início da história de São Paulo, vamos apresentar agora os indígenas, que muito auxiliaram pra se manter o assentamento criado, bem como também foram inimigos ferrenhos dos portugueses na região que hoje compreende o litoral de nosso próprio estado...


7) Cacique Tibiriçá 

Cacique extremamente importante nos primeiros tempos de São Paulo, foi responsável por ter demovido outras tribos da ideia de atacarem o colégio dos jesuítas (já que tinha se convertido ao catolicismo, catequizado pelo próprio Padre Anchieta). Por outro lado, era o pai da índia Bartira, que foi dada como mulher ao português João Ramalho (uma espécie de patriarca dos paulistas, que formou com Bartira o casal "estilo Adão e Eva" dos primórdios paulistas). Foi tão importante no início do povoado de São Paulo que seus restos mortais estão hoje na cripta da Catedral da Sé.  


Sua importância pode ser mostrada também por ter dado seu nome à uma importante estrada do estado de São Paulo, a Rodovia Índio Tibiriçá, ligação entre São Bernardo do Campo e Suzano, na região metropolitana de São Paulo.     


8) Os Tamoios 

Tribo indígena que vivia no litoral, na região entre os atuais estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Eram extremamente guerreiros e também antropófagos (ou seja, eram canibais: matavam e depois comiam a carne de guerreiros valorosos, com o intuito de adquirir, dessa forma, a sua coragem e seu valor). Instituíram a chamada "Confederação dos Tamoios" para lutarem contra os portugueses e, durante muito tempo, foram a única resistência organizada contra os mesmos, atacando-os na baía de Guanabara (na recém fundada cidade do Rio de Janeiro), e em Angra dos Reis. Seus principais caciques foram Cunhambebe e Aimberê. Com o primeiro a guerra foi enorme e sempre crescente. Já com o segundo, também (durante algum tempo); porém, foi com este último que foi selada uma paz, após 1565, momento em que se pode dar mais atenção à recém fundada vila de Iperoig (a atual cidade de Ubatuba).   


Em homenagem a estes importantes guerreiros indígenas, foi dado o nome deles à uma importante estrada do estado de São Paulo, a Rodovia dos Tamoios, ligação entre São José dos Campos e Caraguatatuba, na região da Serra do Mar (em sua porção adjacente ao litoral norte do estado de São Paulo).



  


E, já durante o século XX, aparecem outros atores de São Paulo, os imigrantes, que chegam de Santos para trabalharem em São Paulo e em seus cafezais no interior...

9) Os Imigrantes 

Figuras históricas importantíssima no início do século XX na história de São Paulo, os imigrantes - principalmente os italianos - foram trazidos para cá para substituírem os escravos (que haviam sido libertados em fins do século XIX), sendo o seu caminho, entre Santos e São Paulo, a última etapa de sua grande viagem, se fossem ficar em São Paulo (já que os que seguiriam para as fazendas do interior ainda tinham mais um último percurso, após uma pequena estadia na Hospedaria dos Imigrantes, no Brás). 



Essa viagem dos imigrantes entre Santos e São Paulo acabou batizando uma nova estrada entre o litoral e o cume da Serra do Mar, entre São Paulo: a Rodovia dos Imigrantes.
  


E, já que todas as estradas tem nomes de grandes personagens históricos, então quem é esse cara que batiza essa outra estrada importante que passa por São Paulo?

10) Régis Bittencourt 

Ele era um bandeirante? Um jesuíta?? Um antigo prefeito, então, quem sabe??? Bom, nada disso. Em muito devido estar se vivendo durante a chamada Era Vargas - no momento da construção e inauguração da estrada - durante as décadas de 1940/1950 (ou seja, durante a ditadura do "Estado Novo"), batizou-se a parte da grande estrada BR-116 - em seu trecho que passa por São Paulo e segue para o sul do Brasil - de Rodovia Régis Bittencourt em homenagem ao grande empreiteiro e ex-presidente do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER).



É, podemos dizer que os empreiteiros estão metidos em coisas "escusas", no Brasil, já há muito tempo. Mesmo que esta coisa seja, nesse caso específico, o de simplesmente nomear uma rodovia de São Paulo de forma tão esdrúxula, sem graça (pelo menos comparando-se aos outros exemplos desse próprio artigo), e sem propósito, como foi este o caso...