Voltando ao tema do anacronismo - essa nossa nítida impressão que o mundo sempre foi como é hoje (já que sempre acabamos por transpor características de nosso tempo para tempos passados) - um tema que é bem pertinente (sendo mesmo um bom exemplo disso), é a infância.
Afinal de contas, dentre os vários quesitos que podemos analisar, no âmbito social, nada mudou mais que a infância, ou melhor, "o como tratamos a infância". Explicando melhor: até bem pouco tempo atrás (até o século XIX, se estendendo para, pelo menos, as duas primeiras décadas do século XX), ou seja, historicamente falando foi ontem, praticamente não existia a criança (ao menos como a conhecemos hoje), visto que todas elas - a partir dos seis ou sete anos, mais ou menos - já eram tratadas como 'pequenos adultos'. Um pouco depois disso já eram adultos e ponto. Isso ocorria devido a vários fatores, tais como:
- Fatores culturais que nos levavam a crer que era assim que deveríamos tratá-las, afinal, desde cedo, deveríamos fazer delas homens ou mulheres, tendo sido isso agravado pela Revolução Industrial (que requeria braços, tivessem estes idade fosse);
- Outro fator era o grande número de filhos que se tinha nos casamentos, fazendo com que, devido à grande natalidade, nem mesmo se chorava muito tempo a morte de uma criança (uma vez que, morrendo um, ainda se tinha mais 5 ou 6 filhos para criar), e já que era também grande a mortalidade, em especial a infantil;
- Devido a isso as mulheres - que sempre diz-se amadurecer antes dos homens - tinham mesmo que ter esse amadurecimento rápido, uma vez que não ultrapassavam os dezesseis anos solteiras, sendo o mais comum o casamento aos quatorze ou quinze anos. Era de se estranhar uma menina de dezessete anos solteira. "Boa coisa é que ela não era", deviam comentar as matronas de plantão.
Realmente não era fácil ser criança. Querendo confirmar isso, pergunte a um avô ou uma avó como foi a infância deles. E multiplique um pouco pra saber como deve ter sido vivida a infância durante o século XIX (pra não irmos tão longe assim)...
Bom exemplo disso foi Pedro II. Ele simplesmente não teve infância. Foi educado sob dura disciplina, tinha horários rígidos e apenas duas horas ao dia para "brinquedos"; o resto era estudar, estudar, estudar...Aprendeu nada menos que 13 línguas, era mestre em astronomia e geografia e sabia de todas as ciências. E teve a vida mais infeliz que se possa imaginar.
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