quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Democracia Corinthiana: como um clube de futebol deu uma lição de democracia e ajudou na derrocada da ditadura militar no Brasil


Este mês é bem importante para o time do S. C. Corinthians Paulista, pois, no último dia 1.º de setembro, o clube completou seus 107 anos de existência. Que o Corinthians é importantíssimo para o futebol paulista, bem como para o brasileiro também, isso já é bem sabido por todos.

Porém, o que nem todos devem saber - ou mesmo se recordar - é um caso bem insólito, para o âmbito do futebol como esporte (seja no Brasil, ou mesmo no mundo). E o que quero fazer com este artigo é, justamente, mostrar o porque disso, sua real importância e suas nuances. Portanto, seja você corinthiano ou não, mergulhe nessa história de lances ousados e inusitados, como é, num primeiro momento, o próprio futebol (em sua essência)...


Lá pelos idos de 1982 - ou seja, já durante o ocaso da ditadura militar no Brasil (que acabou oficialmente em 1985) - o time do Corinthians (seus jogadores, dirigentes e funcionários), deram uma lição de democracia ao povo brasileiro e, principalmente, aos militares que nos governavam ditatorialmente...


O que se convencionou chamar de "Democracia Corinthiana" foi um regime de auto-gestão do time, apoiado por seu presidente à época - o sr. Waldemar Pires - que, eleito, chamou um sociólogo, Adilson Monteiro Alves, para ser o diretor de futebol. Em sua gestão muitas decisões foram sendo, democraticamente, divididas e decididas entre todos os funcionários do clube, fossem eles jogadores, técnico, auxiliares técnicos, e os vários outros funcionários, de todos os escalões da hierarquia corinthiana. Liderados, em campo, pelo Dr. Sócrates, seguido de outros importantes jogadores do elenco, como Casagrande, Wladimir, Zenon e outros, o que era pra ser só uma experiência interna - um movimento ideológico - foi ganhando contornos de um movimento de massa, que se expandia também para fora das quatro linhas do campo de futebol...


Isso ocorreu, em muito, devido a própria falta de opções de engajamento em movimentos democráticos, em muito devido às próprias restrições impostas pela ditadura, enquanto regime de exceção que era. Com isso, muitos recados foram sendo dados pelo time aos seus torcedores (que eram, obviamente, replicados ao restante da população via imprensa, já que esta começava a ter uma relativa liberdade, após anos de censura).

























Tudo começou com recados de incentivo ao voto, que havia sido liberado, para as eleições legislativas, também no ano de 1982 (como mostram as fotos acima, sendo que na segunda foto ele está dando uma entrevista ao então repórter de campo, Fausto Silva, o futuro Faustão das tardes de domingo).




Aos poucos foram aparecendo, dentre as faixas de apoio ao time, faixas mais politizadas, com recados à ditadura e aos seus governantes militares (como as que vemos acima, cobrando a "Anistia Ampla Geral e Irrestrita", na 1.ª foto, e as eleições diretas, na 2.ª foto, com os dizeres "Presidente, quem escolhe é a gente.")...

A "ano zero" da "Democracia Corinthiana" é o de 1982 (estamos, portanto, comemorando 35 anos, agora em 2017, desse grande feito, futebolístico e social). No decorrer dos anos seguintes isso só fez crescer, com os corinthianos se engajando mais e mais na ideia de democracia, não somente para o Corinthians, mas também para o próprio país... Porém, podemos dizer que o legado da "Democracia Corinthiana" chegou aos nossos dias (na foto abaixo, o golpe a que a faixa menciona é o "golpe branco" de Michel Temer)...



Nos anos que se seguiram à experiência corinthiana, ela foi tomando tamanho vulto, que foi começando a ganhar grande divulgação nos meios de comunicação - inclusive dos internacionais - ajudando a mostrar ao mundo o regime ditatorial que tanto nos oprimia... Em sua morte, as notícias internacionais lembravam de sua atuação na "Democracia Corinthiana" (em detrimento de que, assim, também se ajudou na derrocada da ditadura militar)...



Com isso, Sócrates e companhia foram se tornando figuras de monta na própria luta pela democracia no país. Um bom exemplo disso é que eles se tornaram "figurinhas carimbadas" nos próprios comícios e eventos da campanha pelas "Diretas Já", em 1984. A aprovação não veio, mas todo o movimento foi um tapa de luva de pelica na cara da ditadura, mostrando como era anacrônico se manter um regime de exceção e ditatorial no Brasil por muito mais tempo. Na imagem abaixo aparecem Sócrates e Casagrande, com Osmar Santos entre os dois...


Tanto estes eventos são importantes pra história do Corinthians - e, por que não dizer - pra própria história do país, que o Corinthians tem, no evento, um dos pontos fortes de sua própria história, como a estampa da camiseta comemorativa abaixo deixa bem claro. Também a charge política a seguir mostra bem o quão politizado era o Dr. Sócrates tendo sido ela publicada quando da morte do jogador, em 04 de dezembro de 2011..




Já eu tive, dentre as várias coisas marcantes que ocorreram em minha vida, a chance de conhecer este meu grande ídolo de infância e adolescência, o Dr. Sócrates, num dos eventos comemorativos do Centenário do S. C. Corinthians Paulista, no Museu do Futebol, no Pacaembu, em 2010, como mostra a foto a seguir...

[Na ordem: meu filho Gabriel (em meu colo, com menos de um ano), eu, o grande Dr. Sócrates e minha mãe, Dona Irma.]



Como disse mais acima, você pode até não ser corinthiano - como eu, graças a Deus, o sou - mas não à como negar a importância histórica deste movimento, tanto para o nosso futebol, quanto para - e principalmente - a história de nosso próprio país (e de sua luta contra a ditadura militar, que, há época, nos afligia por quase 20 anos). E, pra não perder a máxima corinthiana: VAAAIII CORINTHIANS!!!

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