Para falarmos da construção da Avenida Paulista teremos de voltar um pouco no tempo, antes de desta, mais precisamente lá pelo século XVIII, pelo menos... Nessa época a cidade basicamente se delimitava pelos pontos de seu "triângulo histórico", à saber: o Mosteiro de São Bento, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e o Convento de São Francisco de Assis como vértices, tendo ao centro - mas nem tão central assim - o Largo da Matriz (ou seja, a futura Praça da Sé).
Porém, a cidade ia se expandindo para todos os lados possíveis, mais ainda para as cercanias do seu sentido oeste, onde iam aparecendo cemitérios de ordens católicas e protestantes; e, com isso, iam acontecendo também vários novos empreendimentos. O maior destes foi, com toda a certeza, o novo cemitério público que estava sendo construído, o "Cemitério da Consolação" (inaugurado em 15 agosto de 1858, mas já tendo uma história como primeiro cemitério público, com relatos nesse sentido datando desde o ano de 1829). Isso colocou o rumo da cidade na direção do atual bairro de Pinheiros (então apenas uma fazendo de plantação de pinheiros), que descia dos altos da futura Avenida Dr. Arnaldo na direção das várzeas do rio Pinheiros (ainda chamado por seu antigo nome: rio Jurubatuba).
Ali ao lado, seguindo por este caminho, quase no centro do percurso entre o "Cemitério da Consolação" e a fazenda de pinheiros, ficava o chamado "Morro do Caaguaçu" - na verdade o cume do morro, que era bem plano pras suas condições naturais. Caaguaçu vem do tupi, e quer dizer "Mata Fechada" ou mesmo "Mata Densa", uma vez que o terreno do local era uma grande porção, bem fechada por sinal, de nossa Mata Atlântica (cuja vegetação remanescente fica no atual Parque Trianon), motivo pelo qual a região era pródiga em quilombos, formados por negros que fugiam de localidades como o Bexiga e subiam o morro em busca de segurança. Também foi muito utilizada como caminho de boiadas, que seguiam todas, por alguma picada no meio da mata, para uma abatedouro existente logo adiante, após o Caaguaçu, próximo de onde viria a ser o bairro da Vila Mariana.
Porém, não obstante, durante boa parte do século XIX alguns investidores foram adquirindo terrenos no local, já com o intuito de se fazer uma grande avenida na região, bem como também fazendo-a demarcar alguns novos bairros para os mais abastados. A Avenida Paulista foi inaugurada - ainda de terra, sem nenhum tipo de calçamento, e com poucas casas nas imediações - em fins do século XIX, mais precisamente em 8 de dezembro de 1891, devido ao gênio e à perspicácia de um português, Joaquim Eugênio de Lima.
Aos poucos ela foi ganhando pedras de paralelepípedos e, mais tarde, asfalto. Ainda em fins do século XIX a avenida torna-se o endereço dos endinheirados barões do café; e, já no início do século XX, ela foi ganhando notoriedade como o lar dos grandes industriais, como os Matarazzo e os Martinelli; e, entre outras coisas, estes construíram suas famosas mansões ou mesmo compraram as mansões de algum dos barões do café endividados (transformando-as agora em "mansões de magnatas da indústria"). Nas fotos abaixo seguem imagens dos primeiros anos do século XX - a primeira é de 1902 e a segunda é de 1905 - com seu clima ainda mais para o "residencial de elite"...
Nas décadas de 1910 todo esse glamour só fez aumentar. A Avenida Paulista e todas as ruas de seu entorno se tornaram o bairro da vez nos empreendimentos imobiliários e o Jardim Paulista, como começou a ser chamado, se tornou o endereço do desejo dos ricos e poderosos. E tinha fácil acesso para todos - até aos mais pobres, que a frequentavam na condição de criados dos mais abastados - devido uma bem servida linha de bondes...
Já na década de 1920 torna-se o endereço de festas e da vida noturna, sendo sua joia maior o restaurante "Belvedere Trianon", localizado onde hoje se encontra o MASP (Museu de Arte de São Paulo), e que, "diz a lenda", era frequentado pelo pessoal que iria fazer a "Semana de Arte Moderna", em 1922, tendo sido lá, nas mesas do Belvedere, que se arquitetou todo o evento. A Avenida Paulista era também parte integrante de São Paulo como uma espécie de centro novo da cidade, porém sem perder um charme de elite interiorana ainda presente. É o caso dos corsos, desfiles de carros "fantasiados", todos paramentados para o Carnaval. É, os "Loucos Anos 20" haviam chegado à avenida mais importante de São Paulo.
Foi em meados da década de 1950 que a sua aura estritamente residencial começou a mudar, uma vez que a expansão da cidade começou a levar para a Avenida Paulista o comércio, alguns bancos e mesmo a sede de empresas nacionais e multinacionais. Também foi nesse momento que a verticalização da região se iniciou, ainda de forma discreta, pondo abaixo muitas das mansões (que antes eram os símbolos da potência econômica - de sua então classe dominante - que a avenida representava).
Já nas décadas de 1960 e 1970 várias mudanças foram sendo sentidas também, tais como a especulação imobiliária, que elevou o preço dos imóveis na região. Com isso, foi-se implementando a atual tendência da região, a verticalização e seus edifícios - ou, os famosos "espigões da Paulista" - onde empresas e bancos, nacionais, multinacionais e estrangeiros, começaram a fazer suas transações, transformando a Avenina Paulista no centro nervoso das finanças do estado e do próprio Brasil.
A ligação entre a Avenida Paulista e as finanças do estado, e mesmo do Brasil, só se agigantaram. Um exemplo disso é o fato da sede da FIESP (Federação da Indústrias do Estado de São Paulo), estar na avenida, sendo um dos edifícios mais lembrados dos muitos existentes no endereço - alguns o odeiam, alguns o amam - mas todos se lembram dele. Também entre as décadas de 1960 e 1970 várias atrações culturais foram sendo implementadas, transformando a Avenida Paulista num endereço também cultural da cidade de São Paulo. Lugares como o MASP (Museu de Arte de São Paulo), inaugurado ainda numa rua do centro de São Paulo, inicialmente, ainda na década de 1950, logo foi lotado na Avenida Paulista, desde 7 de novembro de 1968, para sermos mais exatos. Mais tardio mas não menos interessante é a Casa das Rosas, onde acontecem saraus e lançamentos de livros. A casa é das poucas remanescentes das mansões de outrora, porém é uma construção já meio tardia, uma vez que é de 1935, tendo sido projetada pelo arquiteto Ramos de Azevedo (o mesmo do Teatro Municipal). Foi tombada em 1985 e, após restauração, desde o final da década de 1990 está aberta ao público.
Nas décadas seguintes houve mais uma avalanche de mudanças ocorrendo com a Avenida Paulista. E passamos por diversos tipos de manifestações políticas (de esquerda e de direita), comemorações de títulos de vários clubes do futebol paulistano e de outros tipos de eventos que não podem ocorrer em outro lugar que não a Avenida Paulista. Além deles, há também os eventos que já viraram anuais, tais como a "Parada do Orgulho Gay" e a "Corrida de São Silvestre".
Já no século XXI a Avenida Paulista vai ditando moda e lançando novas formas de viver e conviver com ela própria. Uma das novidades é o fato da Avenida Paulista ter agora muitas ciclovias, trazendo um ideal de vida mais saudável e esportivo, fazendo mesmo que a grande avenida - "a que nunca pára e a que não dorme nunca", alguns adjetivos à ela atribuídos através de sua história mais que centenária - possa virar uma grande "rua de lazer" todos os domingos.
Não é a toa que ela está aí, importante desde sempre, com sua história mais do que centenária. E, se pudermos eleger um motivo para essa onipresença e onipotência da Avenida Paulista, arrisco dizer que é a própria capacidade de se reinventar. Sempre!!...