quinta-feira, 22 de junho de 2017

Conheça HERÓDOTO, o "PAI DA HISTÓRIA"

A História - assim, com letra maiúscula - tem essa grafia sempre que estamos nos referindo à Ciência da História, e não à uma história qualquer, de uma localidade específica - como à uma lenda local ou mesmo à história de uma cidade, ou mesmo de um bairro dessa mesma cidade. E devemos isso - o fato de se existir uma Ciência com esse intuito (cuja magna ideia é a de se contar toda a aventura da existência do ser humano, desde os seus primórdios até os dias atuais) - a um cara que primeiro achou isso importante. E esse grande cara é o filósofo grego [ele nasceu em "Halikarnasso", no território que hoje faz parte da Turquia, mas, a sua época, a cidade era parte integrante do mundo grego, ou helenístico, como nos acostumamos a nomear depois], Heródoto. E, é isso mesmo que dissemos: um filósofo, já que estamos falando de um momento na História em que tudo, relacionado à qualquer Ciência que fosse, era tratado pela grande Ciência-mãe: a Filosofia (o que hoje chamamos de interdisciplinariedade era, para os gregos, o "lugar-comum" para uma boa aprendizagem)...



Ele é cognominado como o "Pai da História" pois foi o filósofo que primeiro veio a achar importante se estudar o passado para, assim, termos uma ideia mais concisa do que é o presente em que vivemos. E, para tanto, ele se debruçou sobre a civilização mais emblemática para os antigos gregos, civilização esta que ele próprio deveria ver como sendo uma das que antecedeu algumas das ideias utilizadas pelos próprios gregos na construção de sua própria civilização: a Civilização do Egito Antigo. Esta frase, que prefacia sua primeira e mais conhecida obra, "A História", mostra bem o que Heródoto, achava de sua nova fonte de pesquisa e de conhecimento:

"Relativamente ao próprio Egito, estenderei amplamente minhas observações, pois não há outro país que possua tantas maravilhas, nem que possua tantas obras a desafiar sua interpretação."


Outra de suas obras mais importantes, composta, ao todo, por nove livros, é o Volume 2 de suas Histórias "Euterpe" (o nome de uma das ninfas), onde, mesmo sem ter muitos dos subsídios para tal (uma vez que, por exemplo, os hieróglifos só puderam ser traduzidos no século XIX, após acharem a "Pedra de Roseta"), ele consegue nos mostrar o quão antigas eram as dinastias egípcias, bem como toda a civilização egípcia, fazendo uma grande explanação da história da região, bem como de sua geografia. Tendo visitado o Egito e vários de seus emblemáticos monumentos, Heródoto foi também uma espécie de patrono da Arqueologia (quando esta nem mesmo existia na ideia, na concepção, quanto mais como Ciência ou mesmo como uma técnica). 






















Heródoto não nos legou somente sua estupenda obra. Ele nos trouxe uma nova ciência, que seria, nos anos e séculos seguintes, bombardeada por novas ideias e novas maneiras de estudá-la e pesquisá-laA força de seu codinome, "O Pai da História", não está somente nisso: um codinome. Heródoto é figura central e importante para a Filosofia e a Ciência. Sua popularidade está em se ter escultores do passado ou ilustradores mais atuais tentando saber como deveria ser seu verdadeiro rosto, ou em se ter estátuas suas aos montes, tanto em Bodrum (na antiga Halikarnasso), na Turquia, como outra, imponente e maravilhosa, em frente ao parlamento austríaco..




Com seus textos fez muitas alusões, mostrando pontos em comum entre a civilização egípcia e algumas das conquistas de sua sucessora, a civilização grega, depois helenística. Entre estas estão pontos importantes, que podemos tentar listá-los aqui: na política, nas artes, na arquitetura, nas leis, na medicina e na astronomia, dentre outras tantas que podemos aludir...

domingo, 18 de junho de 2017

VERDADES E MENTIRAS SOBRE A GUERRA DO PARAGUAI

A Guerra do Paraguai é um episódio com várias formas de se encarar, do ponto de vista histórico. Se por um lado pode ser considerado uma guerra atroz, de uma coligação de três países - e dentre esses, um império de tamanho continental - contra uma pequena república que só buscava sua saída para o mar pela bacia do Prata, como também pode ser considerado momento exato do advento de uma força que, desde então, se tornou recorrente na história do Brasil: o exército brasileiro. Por meio deste artigo mostraremos que há mais perguntas sem resposta nessa história que certezas!

* A Guerra do Paraguai se iniciou com a criação da chamada Tríplice Aliança, uma coligação da qual faziam parte o Império do Brasil, a República da Argentina e a República do Uruguai. Ela foi criada para que os interesses destes três países fossem acatados, frente a um quarto que queria uma parcela da Bacia do Rio da Prata, para ter também sua saída para o mar: a República do Paraguai, cujo governante, Solano Lopez, era tido pelos integrantes da Tríplice Aliança como um ditador cruel e louco. Foi nesse ínterim que a guerra se inicia, com a invasões de tropas paraguaias à cidade de Corumbá, no atual Mato Grosso do Sul, deflagrando o conflito (que, desde então, acaba por tornar-se uma guerra de duas frentes: a brasileira, atacando o Paraguai, e a paraguaia, se defendendo e atacando o que conseguia do enorme território do Brasil, já que a Argentina e o Uruguai se tornam meros apoiadores - bem como expectadores - do exército brasileiro em sua invasão ao Paraguai).


* A Guerra do Paraguai é o maior conflito bélico já ocorrido na América do Sul, porém é também o que menos dados concretos se têm sobre o episódio, já que muitos dos fatos já se tornaram lendas, ficando difícil dividi-las. Uma das lendas é a de que Solano Lopez era um estadista de visão e que estava por transformar o Paraguai numa potência industrial na América do Sul, o que fez com que a Inglaterra incutisse em seu maior aliado na região, o Império do Brasil, a vontade de parar com as atrocidades do vil ditador Lopez. Essa teoria cai por terra facilmente, já que o Paraguai tinha o mesmo tipo de economia dos outros integrantes da América do Sul, ou seja, era um país extremamente agrário (e com agricultura extremamente pobre e mal administrada). Sendo assim, o Paraguai não era um rival a altura nem mesmo do Brasil, quiçá da Inglaterra... Mas, que de uma forma bem capitalista, a Inglaterra também estava envolvida no conflito, isso era óbvio, afinal de contas de que país vocês acham que os pífios exércitos do Brasil, da Argentina e do Uruguai abasteceram suas defasadas artilharias?

  
* Outro episódio que marcou essa guerra é a dos Voluntários da Pátria, que ficou tanto na memória coletiva brasileira que muitos municípios e a quase totalidade das capitais do Brasil tem alguma rua com este nome (eu, como paulista e paulistano, sei que a rua Voluntários da Pátria é uma rua do bairro de Santana, que desce paralelamente à avenida Cruzeiro do Sul, no sentido do centro da cidade). Tudo é tão marcante que as pessoas tinham carteirinha com seu número de voluntário, sendo o voluntário de n.* 1 o próprio imperador Dom Pedro II. Porém o termo "voluntário" não era assim tão próprio ao que de fato acontecia. Era comum fazerem festas em bairros, onde o exército ia cercando até conter uma grande quantidade de homens para fazê-los voluntários; muitos homens fugiam para o mato ou mesmo se vestiam de mulheres para escapar ao alistamento compulsório; e era bastante comum que os rapazolas mais bem apessoados da sociedade escapassem de seguir para a guerra mandando um de seus negros no lugar.


* Foi um conflito sangrento e há relatos de atrocidades cometidas pelo exército brasileiro. A essa afirmativa podemos dizer que é muito provável que tenham ocorrido algo parecido. Agora daí a se dizer que o Duque de Caxias tentou dizimar a população de cidades com estratagemas de guerra biológica, como jogarem cadáveres mortos por cólera com o intuito de matar as populações de cidades há um grande talvez nessa história. Se ele pudesse ter atitudes como essa, o que dizer de ter saído do comando após a tomada de Assunção, não compactuando com a ideia corrente de que a guerra só deveria terminar após Solano Lopez ser capturado ou morto.



* E, se por um lado fortaleceu o exército, também fortaleceu a marinha (ou seja, fortaleceu os militares em geral, dando-lhes uma instituição e, por que não dizer, uma constituição para influenciar tanto o império daquela guerra, quanto as batalhas da vindoura república). E, se no exército o nome forte era o do Duque de Caxias, na marinha, com as vitórias na própria Guerra do Paraguai, o nome forte era o do Almirante Tamandaré. A maior parte das vitórias de suas armadas foram travadas nos rios da região da bacia do Prata, sendo a Batalha de Riachuelo a maior delas, pois com essa vitória eles mudaram o rumo da guerra em favor da Tríplice Aliança.

  

* Após a saída de Duque de Caxias do comando da guerra, a Guerra do Paraguai virou uma caça à Solano Lopez que só endividou mais ainda os já combalidos participantes do conflito, com o marido da princesa Isabel, o conde 'Eu (o que está com a mão à cintura na foto abaixo), no comando até que só intensificou a caçada a Lopez. Afinal já havia se passado 5 longos anos e todos queriam o fim da guerra, porém com Solano Lopez longe do poder, se possível morto. Do lado paraguaio, até crianças eram mandadas para o front, no intuito de defender o país e seu governante máximo. 



Em 1870, no norte do Paraguai, após deixar um país destroçado, com metade da população morta, é morto em combate o ditador Solano Lopez. Congratulam-se os líderes da Tríplice Aliança, em especial o imperador do Brasil (no foto, vestido em trajes gaúchos), que tanto quis e que não só conseguiu vencer o ditador, como mesmo o matou. Um triste fim para uma guerra extremamente triste e hedionda!...


sexta-feira, 16 de junho de 2017

VERDADES E MENTIRAS SOBRE A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

A Proclamação da República é, até hoje, dos fatos históricos menos conhecidos e explicados de nossa História. Para que isso mude serão ainda necessários muitos estudos e pesquisas dos nossos historiadores. Sendo assim, o que quero, com esse artigo, ora apresentado, é tentar mostrar suas verdades e mentiras, conhecidas ou nem tanto, para, dessa forma, jogar um pouco mais de luz sobre esse controverso assunto. Então, vamos a isso...

* Uma das particularidades do Brasil, frente os outros países das Américas, é o de ser o único a se manter monárquico após sua Independência - há até um clássico de nossa historiografia que fala sobre isso e tem o sugestivo nome de "Um Império entre Repúblicas" - sendo este o principal motivo de não termos sido muito bem vistos, política e diplomaticamente, pelos nossos vizinhos (além de outro problema para os outros países: o seu tamanho descomunal, outro "presente" da Monarquia, já que o Brasil se manteve um país com esse tipo "quase continental" à força, pelas espadas dos exércitos de Dom Pedro I e de Dom Pedro II). Enquanto a Monarquia foi bem vinda e vinha a calhar, ela se manteve como algo natural - o que de fato era, visto que durante 13 anos obedecemos a um rei, Dom João VI, que estava ali, ao nosso lado (e não a um oceano de distância, lá na Europa, como aconteceu na América espanhola ou inglesa), mantendo a ideia de República um tanto quanto distante de nós...


* Outro ponto a analisarmos é o fato de que, inversamente ao que ocorreu com a Independência (que foi toda pensada na Corte, ou seja, no Rio de Janeiro, mas foi proclamada em São Paulo), a República foi primeiramente pensada em São Paulo - o primeiro partido republicano foi criado na chamada Convenção de Itu, de 1873, porém foi proclamada na Corte, no Rio de Janeiro, e por republicanos de última hora (sendo o maior deles o próprio Marechal Deodoro da Fonseca, que era amigo pessoal de Dom Pedro II e protelou até o último instante), fazendo do "movimento" algo mais parecido com um golpe de Estado.


* A República era muito pouco conhecida e difundida no Brasil. Havia várias vertentes entre os republicanos tupiniquins e, dentre elas, podemos citar a dos conservadores - que queriam aguardar a morte de Dom Pedro II para proclamá-la - a dos radicais - que a queriam para agora e já, tendo em mente até mesmo a ideia de matar toda a família imperial - e a dos positivistas, que queriam proclamá-la logo, querendo o apoio dos líderes do exército (notadamente o do Marechal Deodoro, querendo ele à frente do movimento). Foi este último grupo que ganhou a pendenga, como sabemos. Uma particularidade: quando quiseram um lema para a nova bandeira, eles optaram pela máxima positivista, que era "Amor, Ordem e Progresso"; só não sabemos muito bem por que o Amor ficou de fora (mas, em se tratando de uma república que se iniciava com um golpe liderado pelo exército, é bem passível de entendimento, não é mesmo?).


* Um dos fatos bem pouco conhecidos, ou mesmo mencionados, é que a primeira bandeira pensada pelos republicanos foi esta, inspirada na bandeira dos Estados Unidos da América (já que o próprio nome da nação, agora republicana, seria "Estados Unidos do Brazil"). A bandeira durou dois dias, logo sendo substituída por uma das primeiras versões da bandeira de nossos dias. Já o nome perdurou até o final do Estado Novo, a ditadura que pôs fim à Era Vargas. 


* Possivelmente o fato mais notório da Proclamação de nossa República foi dita por um jornalista que comentava os acontecimentos logo no dia seguinte à Proclamação. Escreveu ele: "O povo assistiu bestializado o desenrolar dos fatos e tinham total certeza que se tratava de uma parada militar." Ora, prum país onde tudo era feito e decidido por sua elite, nada mais genuíno que esta frase, afinal o povo realmente ficou à margem dos acontecimentos e, mesmo os que se diziam republicanos, foram todos pegos de surpresa ante os acontecimentos daquele dia 15 de novembro de 1889.


E então? É ou não é ainda muito pouco conhecida a nossa Proclamação da República?? E é assim que continuaremos, ao menos enquanto nossos atuais e futuros historiadores estiverem se debruçando sobre os documentos históricos dos fatos, coisa que já estão, mas que ainda demorará um bom tempo, com toda a certeza...

quarta-feira, 14 de junho de 2017

VERDADES E MENTIRAS SOBRE A ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO

Um dos fatos históricos do Brasil mais mal explicados (e, por isso mesmo, mais cheio de meias verdades, ou mesmo, mentiras puras e simples), é o da Abolição da Escravidão. Sendo assim, o que tentaremos fazer neste artigo é expor - e separar - um pouco dessas novas verdades e velhas mentiras. Vamos lá, então...

* Uma das maiores vergonhas do Brasil é a de ter sido o último país a abolir a escravidão. E, pior: isso não se deveu à bondade da Princesa Isabel (que, pelo "feito", ganhou a alcunha de "A Libertadora"), porém, e isso já é público e notório, o real motivo foi o fato do Imperador Dom Pedro II estar sendo extremamente pressionado por sua aliada, a Inglaterra, para acabar com a escravidão, já que ela não era condizente com o novo sistema econômico, o capitalismo industrial, onde era necessário que os braços dos trabalhadores fossem assalariados (para que estes pudessem comprar os produtos industrializados, na maioria importados da própria Inglaterra). E, como sabiam que quando isso fosse feito, a própria Monarquia estaria perdida, Dom Pedro II, estando numa viagem ao exterior (por motivos de saúde, como se alegou na época), deixou para a filha, a então princesa regente, o encargo de assinar a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888.


 















* Justamente por saberem que a abolição seria um "tiro no pé" da própria Monarquia, já que os fazendeiros escravagistas era um dos pontos do "tripé" que sustentava o imperador Dom Pedro II no poder (e mesmo estando pressionado pela poderosa Inglaterra), o governo resolveu "ficar em cima do muro" e começou a legislar visando demonstrar sua conivência à favor da cartilha dos ingleses, mas sem deixar os fazendeiros muito irritados. Para isso, se utilizaram de algumas leis anteriores à Abolição, mostrando assim que a direção era acabar com a escravidão (mas de maneira bem devagar). A primeira delas foi a chamada Lei do Ventre Livre, posta em prática à partir de 28 de setembro de 1871. Foi, na realidade, um tremendo embuste, já que os negros nascidos à partir dessa data eram considerados livres, porém ficavam à disposição dos fazendeiros donos dos negros, pais dos rebentos que seriam - ao menos teoricamente - livres, ainda ficariam sob a guarda legal dos donos de seus pais, ainda escravos. Ou seja, foi, literalmente, uma lei "pra inglês ver"...


E, quando a situação já estava beirando o insustentável - no Brasil, mas, principalmente, no mundo - o Império do Brasil tentou uma última cartada tentando assim ganhar mais tempo. E essa cartada foi a abominável Lei dos Sexagenários, aquela que concedia a liberdade aos escravos que completassem os 60 anos de idade. Ora, se essa idade já era difícil de ser alcançada, mesmo pelos trabalhadores brancos no Brasil do século XIX, imagine pelos escravos, que tinham nos 40 anos (quando trabalhavam na lavoura), ou, quando muito nos 50 anos (quando eram escravos urbanos), a sua expectativa de vida. Essa ridícula lei foi perpetrada e assinada em 28 de setembro de 1885, já bem próximo do fim do jogo da escravidão.


Outro fato sobre o tema da Abolição que é muito pouco divulgado é que a abolição dos escravos ocorreu antes no estado - então província - do Ceará. Ela foi proclamada por uma lei de 25 de março de 1884, quatro anos antes da Lei Áurea. Isso se deveu a vários fatores, porém o que mais deve ter pesado na decisão foi a economia local, extremamente pecuarista, e que, por isso mesmo, não necessitava tanto de braços como no restante do país, que era bem mais agrário.


É bom que se diga que a escravidão, ocorrida no Brasil desde os tempos de Colônia e mantida mesmo após a Independência e durante o período Imperial, acabou por trazer uma carga extremamente maléfica para a nossa sociedade, vide o fato de considerarmos pejorativo todo o tipo trabalho braçal. Outra pesada aura que paira sobre nosso país é o racismo, de todos os tipos, mas prevalecendo o pior deles: o racismo velado, aquele que, sob os auspícios de uma inocente brincadeira, ataca a humanidade de outro ser humano tão somente por sua cor, algo deprimente e, por que não dizer, antigo demais...