sábado, 23 de dezembro de 2017

A história do Natal






Nas mensagens acima vemos votos de um Feliz Natal, algo muito comum nesta época do ano, não é mesmo? Mas, de onde veio essa tradição?? Será, tão somente, da tradição religiosa da Igreja Católica Apostólica Romana???

Bom, como toda festa que é muito antiga - e que tenha um forte cunho religioso, como é o caso - sempre acaba sendo extremamente difícil precisar como é que ela se iniciou, e de que maneira a comemoração do Natal tornou-se o que é hoje. E é exatamente isso que tentaremos fazer neste artigo - tanto para conhecermos o seu princípio, quanto para entendermos muitas de suas tradições!! Vamos a ele, então...

Natal tem em nossos dias os auspícios de ser uma festa católica - já que se trata da festa do nascimento de Jesus Cristo, o filho de Deus que veio à Terra para nos salvar de nossos pecados. Porém, ao analisarmos a gênese dessa festa acabamos por ver que ela é, na realidade, um amálgama de outras festas (e de outras tradições), como poderemos ver nesse artigo.

Isso se deve ao fato de que, como muitas outras religiões, os cristãos se utilizaram de tradições já existentes antes do cristianismo, para assim, facilitar a compreensão dos novos convertidos (em sua maioria, antigos pagãos que faziam parte do enorme território do Império Romano). E, como quando o Natal começou a ser comemorado não se tinha uma real ideia de quando - exatamente - havia nascido Jesus Cristo, esses primeiros cristãos e seus líderes acabaram por estipular algum dia próximo ao do "Solstício de Inverno" (cuja data é lembrada em todo dia 21/12, em todo o hemisfério norte). Devido sua importância no calendário - e na vida de todos (uma vez que era primordial para a agricultura, essencial para esses povos antigos) - já era, desde há muito tempo, um momento de festividades para os próprios romanos, sendo esse período conhecido por estes como as "Saturnais", já sendo, àquela época, uma festa de grande confraternização (e onde até mesmo trocas de presentes eram comuns)...


E, seguindo mais para trás na História, descobrimos que o Natal tem suas reais origens em povos bem mais antigos que os tão civilizados romanos (uma vez que as comemorações do "Solstício de Inverno" já faziam parte dos calendários festivos de povos tão díspares quanto os bárbaros celtas e germânicos, os povos que erigiram as construções de Stonehenge, nas atuais ilhas britânicas, e, até mesmo, por povos indígenas do atual território dos Estados Unidos da América.




Isto feito, pelos romanos - após tornarem-se cristãos - o Natal acabou sendo estipulado como tendo ocorrido numa data próxima à do "Solstício de Inverno", por mera comodidade (bem como pela facilidade que isto trazia na hora da conversão de mais e mais pagãos ao cristianismo)...

E, com o tempo, mais tradições foram sendo criadas, inseridas ou alteradas, com o intuito de tornar o Natal mais aprazível e identificável por estes novos cristãos. E é o que veremos à seguir...


A Árvore de Natal, por exemplo: sua tradição também remonta ao período pagão (ou seja, pré-cristão), uma vez que os povos europeus antigos - essencialmente formado por agricultores - já tinham essa tradição, uma vez que, para eles, ter um pinheiro dentro de casa era considerado muito bom, pois trazia bons agouros para a casa e para toda a família que nela habitava. E, com o tempo, eles foram decorando essas árvores para deixá-las mais aprazível à família e aos que à visitavam (para as festividades do "Solstício de Inverno"). Incluir essa tradição - e ligá-la às novas tradições advindas do Natal - foi só uma questão de tempo...



Já com relação à "grande estrela" do nosso atual Natal, ou seja, ao Papai Noel, este tem sua história ligada em partes à tradição católica, em partes à tradições não tão religiosas assim. Afinal, a figura que deu origem ao "bom velhinho" foi a de um bispo da região da atual Turquia - chamado Nicolau (sendo, depois, canonizado, tornando-se conhecido por "São Nicolau"). Diz a lenda que ele era extremamente bondoso e que, na noite de Natal, ele saía pelas imediações de sua residência episcopal, distribuindo presentes (e mesmo dinheiro), às famílias mais pobres de sua congregação (isso lá nos idos de 280 d.C.). Com o tempo, essa figura foi se metamorfoseando num ser mítico, que morava no Pólo Norte (mais especificamente na região da Lapônia, na atual Finlândia), e que passava o ano todo junto aos seus ajudantes (seus fiéis duendes), que fabricavam muitos e muitos brinquedos, e sendo que estes seriam entregues às crianças do mundo todo na noite de Natal.


E, já com relação à sua indefectível indumentária vermelha, uma das lendas (esta relacionada aos primeiros momentos da Revolução Industrial), diz que seu visual foi criado por uma ainda então pequena empresa que começou a usá-lo como "garoto-propaganda" de seu principal produto no tempo do Natal. Estamos falando da empresa Coca-Cola (criada em 1886), e de seu Papai Noel, que, desde que suas propagandas começaram a ser veiculadas (e repetidas à exaustão, em todos os Natais desde então), acabaram por dar a atual configuração do nosso Papai Noel (com suas roupas vermelhas, sua cara de bonachão e as suas atitudes bondosas). Verdade ou não (já que há controvérsias quanto à essa história), a figura do Papai Noel foi ficando cada vez mais indissolúvel em relação ao Natal.


Agora, com relação à outra das grandes tradições natalinas (esta bem ligada à questão da religião católica), a da montagem de presépios, diz a lenda que o primeiro a montar esta pequena representação de como teria sido o primeiro Natal, foi São Francisco de Assis, que, em 1223, criou uma representação da cena do nascimento de Jesus Cristo (sendo que este primeiro presépio foi, na verdade, um "presépio vivo"). Com o tempo, artesãos de várias localidades foram criando as suas próprias representações, com o uso de imagens - grandes ou pequenas - transformando a criação e a montagem dos presépios em uma arte (e em outra das tradições de Natal).


Espero ter conseguido dar uma nova luz à como foram sendo criadas as tradições de Natal, existentes em nossos dias, ainda mais se tivermos em conta que elas são tão ou mais antigas que o próprio cristianismo...

E, pra não fugirmos às mesmas tradições aqui apresentadas, desejo a todos um Feliz Natal!! E até 2018, com novos artigos e muitas novidades em nosso blog. São estes os sinceros votos deste que vos escreve...

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

A "Era Vargas": os vários governos de Getúlio, em suas quatro fases no poder


Getúlio Dorneles Vargas - ou, simplesmente, Vargas - é a figura mais controversa e rica (do ponto de vista histórico), da história republicana do Brasil. É também a de maior oscilação no tipo de sentimentos que suscita, uma vez que é sempre, ou amado ou odiado, pelo povo.

Sendo assim, devido a essa riqueza toda à que o personagem remete, quero, com este artigo. fazer minha pequena contribuição à sua história, explicando o porque dele ter tido - e ainda ter - essa importância toda em nossa História, tendo, mesmo, batizado o seu extenso período no poder de "Era Vargas". Vamos, portanto, ao artigo...

[Acima: charge do cartunista paulistano Chico Caruso, onde se mostra a "evolução" de Getúlio Vargas, em vários momentos de seu longo período de tempo no poder.]

A Revolução de 1930

Tudo começou com a chamada Revolução de 1930, que, em outubro deste ano, tomou o poder, derrubando, assim, o então presidente - Washington Luís - e terminando com o primeiro momento de nossa república (que, doravante, ficaria conhecida como "República Velha"). Ela foi tramada - e perpetrada - por políticos de estados que não mais queriam compactuar com a chamada "Política do Café com Leite" (quando os presidentes eram eleitos sempre seguindo uma regra tácita de alternância entre candidatos, sendo eles, ora paulistas - já que era o estado produtor do "café" - ora mineiros - uma vez que era o estado pecuarista, abastecendo o país de "leite" e seus derivados). Feita a "revolução" e com o poder tomado, o líder maior da mesma acabou empossado como presidente da República, iniciando-se a "Era Vargas" com o que convencionou-se chamar de "Governo Provisório". É o que apreciaremos à seguir... 


[Acima: uma foto do desenlace final da Revolução de 1930, com Getúlio Vargas posando como líder da "revolução" e rodeado por seus aliados "revolucionários".]

1) Governo Provisório (1930 - 1934)

Este período iniciou-se com a indicação - entre os líderes da Revolução de 1930 - de Getúlio Vargas para ocupar a presidência da República (de forma "provisória", até ser elaborada uma nova constituição, com uma posterior convocação de eleições). Este período do governo de Vargas pode ter sido tudo, menos provisório, uma vez que sua duração foi de quatro anos (mesmo período de tempo dos atuais mandatos presidenciais).

O fato mais importante desse período foi a eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932, ocorrida em São Paulo (desde o início, o estado mais avesso à Vargas e o seu governo), onde os paulistas pegaram em armas e lutaram contra o governo federal, exigindo uma nova constituição e eleições presidenciais. Os combates foram ferrenhos, com batalhas nas cercanias de São Paulo, bombardeios a prédios do centro da capital paulista e lutas travadas por cidades do interior do estado. Após ser traído por outros estados que iriam se juntar à sua luta, São Paulo perdeu sua revolução. Porém, acabou sendo o "vencedor moral" do embate, uma vez que sua exigência maior - uma nova constituição - teve de ser acatada por Vargas, que convocou uma constituinte para o ano seguinte - 1933 - sendo que, em 1934, foi promulgada a nova constituição do Brasil.



[Nas imagens anteriores: na primeira, um cartão postal alusivo à morte dos quatro estudantes - Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo - assassinados em 23 de Maio de 1932, cujo fato - bem como a sigla criada a partir de seus nomes: MMDC (esta usada como um símbolo da campanha de alistamento de combatentes para a futura revolução que se avizinhava) - ajudou a desencadear os acontecimentos que levaram à Revolução Constitucionalista de 1932, iniciada em 9 de Julho do mesmo ano; e, na segunda imagem, podemos ver alguns dos revolucionários que se alistaram para lutar por uma nova constituição para o Brasil.]

2) Governo Constitucional (1934 - 1937)

Este período se iniciou com a promulgação da Constituição de 1934, e a posterior eleição de Getúlio Vargas como presidente da República (agora de uma forma, digamos, legal, uma vez que se elegeu pelo voto, mesmo que indireto, algo que estava previsto nessa nova constituição).

O fato mais marcante desse período foi a Intentona Comunista, ocorrida em 1935. Foi, como o nome sugere, uma tentativa de golpe comunista (uma "intentona": uma tentativa frustrada de golpe; na verdade, um nome pejorativo dado depois pelo governo), que foi liderada por Luís Carlos Prestes, então um membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB). E, em última instância, ela acabou servindo como combustível para o sentimento anti-comunista (algo muito comum no período do Entre-Guerras), sentimento este que será muito bem usado na farsa do Plano Cohen (onde supostamente o exército encontrou provas de um plano de golpe de Estado comunista), dando a desculpa que Vargas precisava para que ele próprio desse um golpe de Estado, iniciando a ditadura do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937.  



[Nas imagens acima: na primeira, Getúlio Vargas e deputados constituintes no dia da promulgação da Constituição de 1934; e, na segunda imagem, os movimentos das poucas tropas durante a Intentona Comunista, em 1935.] 

3) Ditadura do "Estado Novo" (1937 - 1945)

Este período principia com a instauração da ditadura do Estado Novo, em novembro de 1937, quando Vargas - que sempre nutriu grande simpatia por governos autoritários, como o de Mussolini, na Itália, e o de Hitler, na Alemanha - criou sua versão tupiniquim de totalitarismo, com a ditadura do Estado Novo. Assim, começaram as perseguições políticas, a censura aos meios de comunicação, as prisões e a tortura da polícia de Felinto Müller, e outras ações repressoras da máquina totalitária federal. 

O fato histórico primordial do período - não só para o governo de Vargas, mas também para a História global - foi a Segunda Guerra Mundial, ocorrida entre 1939 e 1945 (portanto, toda ela está inserida dentro do período de tempo em que vigorou o Estado Novo). E, nesse ponto, era imprescindível a entrada do Brasil na guerra - ao lado dos Aliados; porém, Vargas ficou "em cima do muro" durante bastante tempo, só oficializando a entrada do Brasil no time dos Aliados quando os Estados Unidos da América concedeu empréstimos e tecnologia para a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em 1941. Ao enviar a Força Expedicionária Brasileira (FEB), para lutar na Segunda Guerra Mundial, Vargas acaba dando um "tiro no pé", cavando a sua própria derrubada do poder (após o término da guerra e o retorno dos pracinhas ao Brasil), afinal eles haviam ido à Europa para derrubar ditaduras e não havia sentido algum continuar vivendo em uma, fazendo com que estes soldados engrossassem o coro dos descontentes, fazendo com que Getúlio Vargas fosse deposto, em 29 de outubro de 1945 (exatamente 15 anos e cinco dias depois de Vargas ter deposto - na Revolução de 1930 - o presidente Washington Luís, em 24 de outubro de 1930). Bem, deposto, sim, mas ainda não de todo afastado do poder (como Vargas logo mostraria). E é isso que veremos a seguir...




[Nas imagens anteriores: na primeira, Getúlio Vargas discursa na instauração da ditadura do Estado Novo; na segunda foto, ao centro, vemos pracinhas da FEB em algum lugar do norte da Itália, durante a Segunda Guerra Mundial; e, na terceira imagem, a deposição de Getúlio Vargas, em 1945.]

Período "fora" do poder (1945 - 1950)

Mesmo tendo sido deposto, Getúlio Vargas não era uma "carta fora do baralho" na política brasileira, uma vez que, nas eleições que se seguiram à sua deposição (alguns meses após a sua derrubada pelos militares), foi o candidato que ele apoiava - o general Eurico Gaspar Dutra - que venceu as eleições para a presidência da República. E, nas mesmas eleições, também ele foi eleito senador (pelo estado do Rio Grande do Sul). Ou seja, ele havia sido retirado do cargo máximo do Executivo, porém abocanhou o maior dos cargos do Legislativo. Coisa que só uma engenhosa "raposa política" poderia fazer. E, se não bastasse, ainda tinha um imenso apoio popular, que clamava por sua volta à presidência (um movimento chamado de "Queremismo", já que seus membros gritavam e escreviam em suas placas a seguinte mensagem: "Queremos Getúlio!!"). E, como era de se esperar numa situação assim, não demorou muito para os "queremistas" tivessem de volta aquilo que tanto exigiram...
















[Nas imagens acima: na primeira, Getúlio Vargas conversa com seu sucessor, o general Eurico Gaspar Dutra; na segunda foto, ao centro, vemos o ex-presidente em campanha para o Senado, terminando com a sua eleição; na terceira imagem, manifestantes do movimento do "Queremismo"participando de um comício político; e, na quarta imagem, um panfleto anunciando a volta de Getúlio ao poder, que era distribuído, nos comícios, pelos membros do "Queremismo".]

4) Governo democrático-populista (1951 - 1954)

Este período se iniciou com a eleição de Getúlio Vargas para a presidência da República, em 1950 (e dessa vez através do voto direto). Nessa sua volta ao poder (Mas será que ele havia mesmo saído?), Vargas fez um governo bastante populista, centrado na relação entre a sua figura carismática - e extremamente paternalista - e o seu eleitorado.

O fato mais marcante desse período foi o próprio escândalo político de seu governo, ocorrido na reta final de seu mandato. Tudo começou com um atentado político contra o principal desafeto de Vargas - Carlos Lacerda - onde este foi baleado no pé, e onde seu acompanhante, um major da Aeronáutica - Rubem Vaz - foi morto. Com a investigação em andamento, descobriu-se que o chefe da guarda pessoal de Getúlio - Gregório Fortunato (apelidado de "Anjo Negro") - podia estar envolvido no crime (como um dos possíveis mandantes do crime). E isso, obviamente, também atingiu o governo de Getúlio Vargas. Se havia ataques de Lacerda antes, à partir disso os ataques foram ganhando em dramaticidade e em peso político, levando também os setores militares a ficarem contra o seu governo. Após aguentar uma grande pressão por sua renúncia, Vargas começa a dizer que não iria ceder à pressão, que não iria renunciar e que "só morto sairia do Palácio do Catete". Na noite entre 23 e 24 de agosto de 1954, a crise e a pressão por sua renúncia chega ao seu ápice, com movimentação de tropas no entorno do Catete. Encurralado e sem uma saída a contento, Vargas cumpre sua ameaça - no episódio que ficou conhecido como o suicídio de Getúlio Vargas - "saindo da vida para entrar na História" (como dizia em sua "carta-testamento"), quando, por volta das 8:00 h da manhã de 24 de agosto de 1954, desferiu um tiro no próprio peito, à queima roupa, tirando a própria vida. 





[Nas imagens anteriores: na primeira, capa do jornal "Última Hora", com a notícia do suicídio de Getúlio Vargas; na segunda, foto do velório de Vargas; e, na terceira imagem, foto do enterro de Getúlio Vargas, onde podemos ver dois de seus ministros - João Goulart, Ministro do Trabalho, e Tancredo Neves, Ministro da Justiça - acompanhando o féretro, quando este estava sendo levado ao caminhão que o levaria ao aeroporto, para que fosse, assim, trasladado para o Rio Grande do Sul.]


-.- X -.-

Há alguns que dizem ser o maior legado de Getúlio Vargas, o de ter - com seu suicídio - evitado um golpe de Estado que seria perpetrado pelos militares (e isso em 1954, ou seja, 10 anos antes do golpe militar de 1964), opinião defendida pelo próprio Tancredo Neves. Bem ou mal, Getúlio Vargas foi um dos políticos mais influentes (e com o período de tempo no poder mais longevo da história republicana do Brasil). E, como dito no início, você pode até estar na turma dos que o odeiam, ou na turma dos que o amam, porém, de uma coisa não há duvidas: este é um dos personagens de maior riqueza para que se conhecer melhor a história do Brasil de nossos dias. E isso é um fato, e contra fatos, não há argumentos...


[Na imagem a seguir: uma das últimas fotos de Getúlio Vargas em vida.]