sábado, 29 de dezembro de 2018

Retrospectiva "Histérica História" 2018


#1 - Janeiro de 2018: 20/01/2018
#2 - Fevereiro de 2018: 23/02/2018

#3 - Março de 2018: 15/03/2018



#7 - Maio de 2018: 04/05/2018


#9 - Julho de 2018: 29/07/2018


#10 - Agosto de 2018: 20/08/2018


#11 - Setembro de 2018: 06/09/2018


#12 - Outubro de 2018: 19/10/2018


#13 - Outubro (2) de 2018: 26/10/2018


#14 - Novembro de 2018: 09/11/2018


#15 - Novembro (2) de 2018: 11/11/2018


#16 - Dezembro de 2018: 01/12/2018


#17 - Dezembro (2) de 2018: 09/12/2018


#18 - Dezembro (3) de 2018: 13/12/2018



quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Os 50 anos de decreto do AI-5


No dia de hoje temos de lembrar o momento mais nefasto e horripilante da Ditadura Militar - na realidade, podemos dizer que este foi o momento em que, efetivamente, o regime militar se tornou, mesmo e descaradamente, uma ditadura - já que, há 50 anos atrás - e, quem sabe para os mais supersticiosos, numa, talvez oportuna, sexta-feira 13 de dezembro de 1968... - era baixado pelo governo (há época, com o marechal Costa e Silva na presidência), o famigerado Ato Institucional n.º 5 (ou, simplesmente, AI-5).

Como a própria sigla denota, ele não foi o primeiro (e, também, infelizmente, não foi o último), dos Atos Institucionais. Na verdade, este ato acabou sendo a principal ferramenta do regime militar para governar (e, principalmente, para se legitimar no poder). Ao todo, foram decretados 17 Atos Institucionais, porém, o mais famoso e odiado foi - com toda a certeza - o AI-5.



Para entendermos melhor o AI-5, vamos relembrar o que foram os 4 AI's anteriores ao famigerado n.º 5 da lista. É o que faremos logo abaixo:

AI-1: Ele dava poderes aos militares de alterar a Constituição, cassar leis, suspender direitos políticos por 10 anos e demitir, colocar em disponibilidade ou aposentar compulsoriamente qualquer um que se colocasse contra o novo regime.

AI-2: Ele instituiu eleições indiretas para para presidente da República, decretou estado de sítio por 180 dias. Com o AC-1 (Ato Complementar 1), criou sanções contra pessoas com direitos políticos cassados (proibindo-os de se manifestarem politicamente, principalmente em público). Houve também um AC-2, que criou algumas disposições transitórias, um AC-3, que formalizou a aplicação de como seriam as suspensões de direitos políticos, e, por fim, um AC-4, que acabou com todos os partidos políticos existentes àquela época, criando um regime de bipartidarismo (criando os dois únicos partidos que poderiam existir à partir dali: a Aliança Renovadora Nacional [ARENA], e o Movimento Democrático Brasileiro [MDB], sendo o primeiro, o partido da situação, dos militares, portanto, e o segundo, o partido da "oposição"). Numa crítica velada, os políticos diziam que o primeiro partido era o do "SIM" (já que concordavam com tudo, sempre), e o segundo partido era o do "SIM, SENHOR" (já que eram, praticamente, obrigados a concordar com o governo, também, com riscos de cassações, caso discordassem).

AI-3: Estabeleceu que os governadores e vice-governadores dos estados também seriam eleitos indiretamente (por um colégio eleitoral de deputados estaduais). E, por fim, preconizou que os prefeitos das capitais dos estados seriam indicados pelos respectivos governadores (com a aprovação dos deputados estaduais).

AI-4: Convocou o Congresso Nacional somente para a votação da Constituição de 1967 (a constituição do regime militar), que substituiria a Constituição de 1946.


Então, por que o AI-5 foi tão mais comentado - e execrado - pela oposição? Bem, a princípio ele foi o Ato que - após estes 4 primeiros, acima listados (e que, basicamente, pavimentaram o caminho para o AI-5) - sacramentou o regime militar como sendo, de fato e "legalmente", uma ditadura militar. E, algo que é bom que se deixe claro, é que ele foi decretado ao final de um ano explosivo, o ano de 1968 (ano em que muitas manifestações de vulto, buscando mudanças na direção de uma maior liberdade, tanto no mundo, quanto no próprio Brasil, mesmo que dentro de um regime de exceção).

À seguir, irei listar algumas dessas manifestações (todas elas, também, completando os seus 50 anos agora, neste ano de 2018), e que foram objeto de artigos aqui mesmo, no nosso blog "Histérica História":

- As Manifestações do "Maio de 68", em Paris:

- A "Passeata dos Cem Mil", no Rio de Janeiro:

- O movimento musical e cultural da "Tropicália", no Brasil

O movimento de tentativa de abertura democrática da "Primavera de Praga", na Tchecoslováquia:


Esses fatos só acabaram por radicalizar mais ainda as manifestações e tentativas de redemocratização (principalmente da esquerda, mesmo que, para alguns grupos dessa vertente, o desejo não fosse - exatamente - uma democracia), bem como radicalizou, também, a própria Ditadura Militar.



Esses fatos só radicalizaram mais ainda as manifestações e tentativas de redemocratização, bem como, também veio à radicalizar o próprio regime militar (transformando-o - por meio do AI-5, em uma Ditadura Militar de fato, como já dito mais acima).



E, nessa "queda-de-braço" pelo poder, era de se esperar que o ganhador fosse os novos donos do poder, os militares. Uma das formas de - ao menos se tentar - mostrar os absurdos do sistema, coube aos cartunistas essa tarefa. Segue abaixo duas charges da época (uma, logo após o decreto do AI-5, de Ziraldo, e outra, já mais próximo do fim do AI-5, de Henfil):



Podemos dizer que o AI-5 instituía uma ditadura de fato, devido ao seu próprio conteúdo. Como fizemos acima (com os 4 Atos Institucionais anteriores), explicamos abaixo - de uma forma mais didática - o teor do mesmo:

AI-5: Em apenas 12 artigos, concedia plenos poderes ao presidente, tais como: cassar mandatos, suspender direitos políticos, decretar o recesso do Congresso Nacional (pegando para si - o Executivo - as funções do Legislativo), intervir em estados e municípios, acabou com o Habeas Corpus para crimes políticos, instituiu - de fato - a Censura prévia aos meios de comunicação, e, por fim, criou mecanismos para exilar qualquer pessoa que fosse contra o regime (fosse um artista, um escritor, um jornalista ou um político).


E, mesmo com toda a oposição ao AI-5, ele acabou durando 10 anos (tendo terminado, de fato, em 1978, por decisão do então presidente, o general Ernesto Geisel), que brigava, internamente, com os militares da chamada "linha dura" do exército (que queriam manter a Ditadura Militar por mais tempo, em detrimento da vontade de Geisel, que era seguir com um processo que ficou conhecido como Abertura Política, visando devolver o poder aos civis alguns anos depois, de forma "lenta e gradual", como queria o general-presidente da vez).


Com o fim do AI-5, a Abertura Política, vislumbrada por Ernesto Geisel, seguiu seu rumo, sendo que o presidente escolhido para o suceder, o general João Batista Figueiredo, deu andamento às suas ideias. Porém, dentro desse processo de Abertura Política, alguns "erros crassos" foram cometidos (sendo o maior deles, a própria Anistia), uma vez que, tendo sido ela "Ampla, geral e irrestrita", acabou por anistiar tanto os perseguidos políticos, quanto também os seus perseguidores - como os torturadores e matadores dos "porões da Ditadura" - caso único dentre as ditaduras ocorridas na América Latina.


Sendo assim, não podemos nos abster de conhecermos melhor a história do Brasil - seja ela de uma de suas piores páginas ou não - para que não cheguemos, de novo, a ter de passar por mais 20 anos (ou mais), de desmandos de um governo autoritário e anti-democrático. Conheça a sua História e fiquemos - todos nós, brasileiros - de olho no futuro, para que não corramos novos riscos (mesmo que advindas de novos personagens, e de suas ideias retrógradas e equivocadas)...

domingo, 9 de dezembro de 2018

Os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos


Na próxima segunda-feira - dia 10 de dezembro de 2018 - estaremos completando os exatos 70 anos de uma data considerada importante para a paz e os direitos de todos nós, seres humanos que moramos nesse pequeno planetinha azul. Isso porque foi no dia 10 de dezembro de 1948 que se criou (e que foi declarada) - em Paris, na ainda nova entidade da Organização das Nações Unidas (a hoje tão falada e comentada ONU) - um documento que ficou, desde então, chamada de Declaração Universal dos Direitos Humanos. E ela, mesmo sendo algo que hoje pode nos parecer até algo de uma obviedade gigantesca, pôde ser considerado como uma grande evolução nos direitos de todos os habitantes desse nosso Planeta Terra.

Porém, para que essa Declaração fosse - realmente - colocada em prática, foi um processo que - de forma mais ou menos intensa - ainda perdura até os nossos dias (com momentos de evolução e de retrocesso, dependendo de que país estamos falando, ou de que guerra perdura num determinado local e momento, por exemplo). Resumindo: depende de quem "dá as cartas" - politicamente e/ou economicamente falando - no momento histórico em que, realmente, se está vivendo...


Vamos deixar claro, na imagem abaixo, qual é o principal dos direitos estabelecidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. O seu, digamos, princípio básico, irremediável e inalienado. Então, aí vai ele:


Eh, aí? O que vocês acham?? Esse princípio é cumprido e levado a sério pela totalidade - ou, ao menos, por uma maioria de peso - da humanidade??? É óbvio que não. Porém, por que a Declaração foi feita - e, em sua maior parte, não acatada - não sendo levada a tento nesses já 70 anos da existência da Declaração Universal dos Direitos Humanos? É o que tentaremos explicar no decorrer desse artigo...


Podemos dizer que os motivos mais fortes para essa Declaração ter sido criada foram as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial - em especial, os crimes cometidos pelos nazistas alemães contra os judeus (o que eles chamavam, pura e simplesmente, de "solução final", e o que o mundo conheceu como Holocausto), inclusive não podendo ser uma mera coincidência que a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi instituída no mesmo ano da Criação do Estado de Israel, ocorrida alguns meses antes, em 14 de maio de 1948). 



Também não é surpresa que estes fatos acabaram por dar uma sobre força à própria criação da Organização das Nações Unidas (a hoje tão conhecida ONU) - mesmo que ela tenha sido criada logo após o término da Segunda Guerra Mundial (no dia 24 de outubro de 1945), porém, o que aconteceu, mesmo, é que a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Criação do Estado de Israel lhe deram um certo statos de poder e à legitimou imensamente, fazendo com que muitos países - ainda reticentes quanto a se juntarem à ONU - começaram a pensar com mais seriedade sobre fazerem parte da Organização (coisa que não aconteceu com sua antecessora, criada ao término da Primeira Guerra Mundial, em 1919: a Sociedade das Nações ou Liga da Nações, como também ficou conhecida)


Se não, vejamos: um dos próprios países - signatário da Declaração - os Estados Unidos da América (EUA), e também um dos articuladores da Declaração [na foto acima, a primeira-dama norte-americana, Eleanor Roosevelt, checando uma impressão do texto todo da Declaração Universal dos Direitos Humanos], acabou não levando tão em conta - ou tão a sério - assim, a própria Declaração. Afinal de contas a Declaração Universal dos Direitos Humanos era acatada e obedecida quando estava em voga os direitos dos brancos (e, já quando o assunto eram os direitos dos negros - o exemplo mais forte - era como se ela, simplesmente, não existisse). Outro caso notório - na verdade, aqui são vários casos, todos com relação (direta ou indireta), às disputas da Guerra Fria - é o fato de que os Estados Unidos da América (EUA) - de novo eles - terem interferido na política de diversos países (principalmente na América Latina), visando, com isso, dissuadir a aparição de novos governos comunistas na região, não se importando que, para isso, apoiassem e treinassem os opositores de direita - que, em sua grande maioria, se uniam aos militares, para que tomassem o poder à força - com o uso de golpes de Estado - utilizando, inclusive, a CIA em cursos intensivos para o uso de caça, de perseguições, da famigerada tortura e de matança indiscriminada para atingirem seus objetivos.



Durante o auge da Guerra Fria (na década de 1960), foi justamente o período em que mais se desobedeceram os Direitos Humanos (como acabaram sendo chamados, mais comumente, desse momento em diante). Afinal, foi nessa década que muitos fatos extremamente autoritários foram perpetrados - e em muitas localidades pelo planeta - coisa que corroboram bastante o que estamos dizendo agora e o que falamos logo acima. Para que fique tudo bem claro, vamos citar alguns deles à seguir:

- Invasão da Hungria pela URSS (1956);
- Tentativa de derrubada de Fidel Castro, em Cuba, pelos EUA (1961);
- A construção do Muro de Berlim, pela URSS (1961);
- A Crise dos Mísseis em Cuba, entre EUA e URSS (1962);
- O Assassinato de John F. Kennedy, em Dallas, EUA (1963);
- O golpe de Estado de militares, no Brasil, com apoio norte-americano (1964);
- O Assassinato de Malcolm X, no Harlem, em Nova York (1965);
- As manifestações de "Maio de 68", em Paris (1968);
- A Primavera de Praga, na Tchecoslováquia, esmagada pela URSS (1968);
- O Assassinato de Martin Luther King, em Memphis, nos EUA (1968).

E a lista poderia ser bem maior ainda, com genocídios tribais na África, perseguições étnicas no Oriente Médio, ou mesmo matanças de cunho religioso no sudeste da Ásia. Como vêem, uma lista beeemmm longa...

Bom, para encerrarmos, podemos dizer que a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi declarada em 10 de dezembro de 1948 - e, portanto, vai completar 70 anos de existência - porém, ela é, na realidade, uma luta constante para que ela se faça valer. E isso será uma pauta sempre presente, não só na ONU, mas também em vários grotões do mundo, sempre que alguém estiver tentando sobrepujar seu semelhante, por motivos políticos, econômicos, ou outro qualquer...

Mas, mesmo com tudo isso, ainda há o que se comemorar. Afinal, sem a Declaração Universal dos Direitos Humanos o mundo poderia estar bem pior!!!



sábado, 1 de dezembro de 2018

Particularidades das criações de Stan Lee - para a Marvel Comics - pouco conhecidas dos fãs dos quadrinhos de super-heróis


Neste mês passado, de novembro (dia 12, mais precisamente) perdemos o maior roteirista e criador de personagens - os grandes super heróis da Marvel Comics - dos quadrinhos adultos (e nem tanto assim), do século XX (e que, com sua colaboração e consultoria, acabou transformando suas criações para os quadrinhos em grandes sucessos cinematográficos), levando suas criaturas a um outro público e a um novo patamar da cultura pop. Estamos falando de Stanley Martin Lieber, mais conhecido - logicamente - como o grande Stan Lee...

Porém, neste breve artigo, tentarei mostrar algumas particularidades que mostram a forma como ele foi criando todo este chamado "Universo Marvel". E isso tem a ver com os nomes reais - as chamadas "identidades secretas" - de seus super heróis. Bem como com o que o garoto Stanley pensava de sua carreira (no início da mesma). É o que vou tentar explicar melhor mais adiante...

Segundo o próprio Stan Lee, ele tinha dificuldades para se lembrar dos alter-egos de seus super-heróis - devido, justamente, a grande quantidade deles (que já haviam sido criados, e que ainda estavam por ser criados). Vai daí que a maioria desses personagens tinham nomes e sobrenomes iniciados pela mesma letra (para, assim, facilitar o roteirista e criador a lembrar-se mais facilmente desses nomes todos).

É óbvio que não foram todos os personagens que passaram por esse processo, porém, podemos dizer que uma grande parte deles foram pensados dessa forma. E, sendo assim, segue abaixo os casos em que isso ocorreu (e alguns onde isso não ocorreu). Depois vocês poderão tirar as suas próprias conclusões:


PERSONAGENS COM IDENTIDADES SECRETAS COM NOMES E SOBRENOMES INICIADOS COM A MESMA LETRA

Do Quarteto Fantástico

- Senhor Fantástico: Reed Richards (letras R)
- Mulher Invisível: Susan Storm (letras S)


Dos X-Men:

- Professor X: Charles Xavier (mesmo com as letras C e X, a sonoridade dos dois nomes é de X, letra que dá nome à própria equipe de super heróis)
- Ciclope: Scott Summers (letras S)
- Anjo: Warren Worthington (letras W)


Outros Super-heróis (e Vilões):

- Homem-Aranha: Peter Parker (letras P)
- Hulk: Bruce Banner (letras B) 
- Doutor Estranho: Stephen Strange (letras S)
- Demolidor: Matt Murdock (letras M)
- Nova: Richard Rider (letras R)
- Deadpool: Wade Wilson (letras W)
- Soldado Invernal: Bucky Barnes (letras B) - Vilão
- Capitão Britânia: Brian Braddock (letras B)
- Sentinela: Robert Reynolds (letras R) - Vilão
- Doutor Octopus: Otto Octavius (letras O) - Vilão
- Carnificina: Cletus Kassady (mesmo com as letras C e K, a sonoridade dos dois nomes é de K) - Vilão
Doutor Destino: Victor Von Doon (letras V, com um D que praticamente se une às letras anteriores) - Vilão


PERSONAGENS COM IDENTIDADES SECRETAS COM NOMES E SOBRENOMES INICIADOS COM LETRAS DIFERENTES

Do Quarteto Fantástico

Tocha Humana: Jonnhy Storm
O Coisa: Ben Grimm


Dos X-Men:

Fênix: Jean Grey
Fera: Hank McCoy
Homem de Gelo: Bobby Drake
- Noturno: Kurt Wagner
- Tempestade: Ororo Munroe
- Colossus: Piotr Rasputin
- Wolverine: possivelmente "James" Logan (o sobrenome é este, com certeza)
- Banshee: Sean Cassidy
- Gambit: Remy LeBeau


Outros Super-heróis (e Vilões):

Capitão América: Steve Rogers (Herói NÃO foi criado por Stan Lee)
Homem de Ferro: Tony Stark 
Thor: Dr. Donald Blake
O Justiceiro: Frank Castle (Herói NÃO foi criado por Stan Lee)
Motoqueiro Fantasma: Johnny Blaze (Herói NÃO foi criado por Stan Lee)
Surfista Prateado: Norrin Radd
Homem-Formiga: Henry Pym e Scott Lang
- Pantera Negra: T'Challa
Falcão: Sam Wilson
Gavião Arqueiro: Clint Barton
Viúva Negra: Natasha Romanov
Caveira Vermelha: Johann Schimidt (Vilão NÃO foi criado por Stan Lee)
Duende Verde: Norman Osborne -  Vilão
Magneto: Eric Lehnsherr - Vilão 


E, para terminarmos este artigo, informamos algo não tão conhecido assim: o seu nome artístico, Stan Lee, foi criado devido ao fato dele achar que não teria uma carreira longa nas histórias em quadrinhos, bem como ao fato de que a sua real vontade era ser um escritor de livros. Sendo assim, ele "guardou" seu real nome - Stanley Martin Lieber - para seu livro (que nunca foi escrito), e usou o pseudônimo tão conhecido (usando para isso o início de seu primeiro nome - Stan - e uma "corruptela" do início de seu último nome, ou seja, de seu real sobrenome, que acabou ficando da forma tão conhecida - Lee). E foi assim que o mundo da literatura perdeu o escritor Stanley Martin Lieber, e o mundo das HQ's de super-heróis ganhou seu maior criador e roteirista: Stan Lee...

Espero que tenham gostado dessas particularidades sobre este grande nome das HQ's!!

  

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

“HISTÓRIA DA CASA VERDE: REMINISCÊNCIAS DE UM TÍPICO BAIRRO DA ZONA NORTE DE SÃO PAULO”




Artigo de conclusão de meu curso de Graduação em "História", concluído em 2009, na Universidade Cruzeiro do Sul.

RESUMO

         Este artigo acadêmico se presta a contar uma breve história do bairro da Casa Verde, desde suas primeiras menções em documentos antigos da então São Paulo de Piratininga de meados do século XVII – ainda sem o nome tão enigmático e emblemático que ganharia no futuro – onde tinha entre seus moradores índios, bandeirantes e jesuítas (já que analisarei a região e seu entorno), passando também pelo século XIX, chegando, por fim, a primeira metade do século XX (quando nasceu o bairro propriamente dito).

A ideia básica e tentar conhecer, através de uma de suas partes, um todo muito maior: de um de seus bairros, a cidade; pela Casa Verde, São Paulo.

PALAVRAS-CHAVE

            História, Bairros, Cidade, Casa Verde, São Paulo.

INTRODUÇÃO

            É intenção deste artigo acadêmico contar a história do bairro da Casa Verde, desde meados do século XVII (quando primeiramente se tem notícia de moradores – não índios, é bom que se especifique – na região), passando pelos séculos XVIII e XIX, vindo até a primeira metade do século XX; analisarei assim perto de uns 300 anos de história. Essa tarefa não será das mais fáceis (tendo-se em vista justamente o extenso período de tempo abrangido nessa empreitada), mas não será impossível como o próprio artigo mostrará. Justamente por essa particularidade, a metodologia de História de que me utilizarei será a chamada “Escola de Annales”, que usa o conceito da “longa duração”, estudando-se um determinado fato histórico desde seus precedentes – portanto, suas causas – até, posteriormente, suas futuras conseqüências. Em suma, uma apuração mais profunda e detalhada do objeto de pesquisa em questão.

            Contarei a história da Casa Verde desde quando a região era habitada por tribos indígenas, passarei pela época em que bandeirantes tinham, na região e em localidades vizinhas, suas fazendas (por onde se espalhavam grandes trigais), além de muitos de seus índios apresados no sertão – para vendê-los ou utiliza-los como mão-de-obra nessas mesmas plantações. Falarei de outro personagem crucial desse período – e que coexistiu no local, quase sempre rivalizando com estes bandeirantes: os jesuítas. Apresentarei também outros “atores” dessa epopeia que, com suas histórias de vida, ajudaram a criar o nome e a identidade “casaverdense”, ajudando a transformar a região no bairro que hoje conhecemos.

            Além disso, será cogitada a reabilitação da memória de muitos que, no decorrer desta história da Casa Verde, terão suas vidas estudadas, tentando assim um maior conhecimento dos respectivos fatos históricos; para tanto me utilizarei de uma análise da história da cidade (mesmo que na escala proporcionalmente reduzida de um de seus bairros), que muitas vezes se mostrará desconhecida de todos nós, moradores de São Paulo (paulistanos ou não). Para tanto, em diversas situações apresentadas neste estudo, tentarei trazer luz a novos dados pesquisados, construindo dessa forma um entendimento do todo pela parte, da cidade pelo bairro, de São Paulo pela Casa Verde.

SÉCULO XVII: TERRA DE BANDEIRANTES E DE ÍNDIOS

            Podemos situar no primeiro quarto do século XVII (mais precisamente no ano de 1612), um primeiro indício sobre a ocupação da região que no futuro viria a ser conhecida como o bairro da Casa Verde. É precisamente deste ano um requerimento pedido por um personagem – que será analisado melhor mais adiante – para que o mesmo tivesse uma licença para assentar “hũ moinho para moer trigo nũ ribeiro q’ chamão ‘manaqui’ da outra banda do ‘rio grande’ mea legoa pela terra demtro...” 1 Seu nome: Amador Bueno. Ora, sendo que essa área se encontra às margens do ribeirão do Mandaqui (que hoje corre, subterraneamente, pela Av. Eng.º Caetano Álvares), seus domínios se estendiam de onde hoje é o Parque Peruche, subindo em seguida na direção da Casa Verde.

Tem-se notícia de fazendas de bandeirantes pelas imediações, sendo que, dentre os mais conhecidos dessa leva encontra-se Braz Leme; ele foi o dono de uma grande casa que, após sucessivas reformas, é hoje conhecida por Sítio Morrinhos (no Jardim São Bento, portanto dentro dos domínios da Casa Verde). Dela ele tinha uma boa visão da grande várzea formada pelas cheias do Rio Grande (o hoje conhecido Rio Tietê). Muitas das fazendas existentes nesse período tinham como propósito, além do plantio de produtos agrícolas (dentre os quais a mandioca, o milho e, o mais importante nesse período, trigo – já que esta cultura se mostrava a mais propensa a ser plantada em grande escala, como produto “de exportação”, para que a metrópole portuguesa pudesse ter seu pão – de trigo – de cada dia). Já para si próprios, este “... estava longe de corresponder ao gosto da população local. Em São Paulo não se gostava de pão de trigo. Isso era comida de europeu. Em São Paulo, dominava a comida indígena à base de mandioca e, principalmente, de milho”. 2 Por outro lado (e corroborando a simbiose existente entre os primeiros paulistas e os índios residentes em toda a cidade), na vizinhança mais imediata da região da Casa Verde, muitos de seus moradores eram índios, principalmente na região do atual bairro do Imirim (que ficou, por muito tempo, conhecido como “Terra de Índios”), dada à abundância dos mesmos na região (tendo isso ocorrido até o começo do século XX).

PROPRIEDADE DE UM “REI” ACLAMADO PELO POVO

            Ao falarmos de Amador Bueno, dentre as tantas histórias da qual foi protagonista, talvez o episódio mais conhecido tenha sido quando este senhor de terras paulistas (e que tinha essa atribuição de forma hereditária, como donatário, visto que seu pai, Bartolomeu Bueno, havia sido um dos colaboradores da colonização portuguesa do planalto paulista, desde há muito tempo) – foi, justamente pelo fato relatado a seguir, chamado de “O Aclamado“. Isso aconteceu quando da vigência da chamada União Ibérica (momento em que a Espanha deteve o governo de Portugal, de 1580 a 1640, e que, consequentemente, aumentou o fluxo de espanhóis no território português), e onde “Amador Bueno tinha sua residência, para os dias em que vinha à vila, na rua São Bento [...] [aconteceu que, num dia] uma turba, insuflada pelos espanhóis, [...] passou a aclamá-lo como rei. [...] [ele] apareceu à porta, depois de insistentes chamados, mas apenas para recusar a honraria e tentar esfriar os ânimos dos manifestantes.” 3 Isso, mesmo que soe como ingênuo, num primeiro momento, demonstrava que os paulistas não reconheciam o rei Filipe II, da Espanha, como seu soberano. Essa foi uma constatação no mínimo emblemática, mesmo vista no contexto de uma América portuguesa, num pseudo-início de um ainda primitivo nacionalismo. O fato ocorreu longe de suas terras (como vimos, na região da futura Casa Verde), mas sim no local hoje conhecido como “centro velho” da cidade – mesmo que no momento não fosse tão velho assim, já que era a própria cidade em gestação – mostrando desde então a propensão a cenário histórico que a região norte (ou mesmo seus proprietários), teriam na vida da cidade desde sua mais tenra “infância”.

            Além do que já foi dito, terá ainda esse personagem um descendente que, no futuro ainda distante, marcará essa nossa história da Casa Verde de maneira ímpar, chegando mesmo a ser responsável por parte do episódio que iria denominá-la como tal. Mas, nesse primeiro momento nos basta dizer que, rivalizando com o prestígio dos donos de terra (e, por conseguinte, também dos apresadores de índios – que era chamada simplesmente “indiada”), se encontrava outra forma de “utilização” do índio, em outra grande fazenda da região, sendo que os empreendedores do processo eram personagens já inicialmente citados neste texto, como veremos no assunto que abordarei a seguir.

OS JESUÍTAS E A VIZINHA FAZENDA SANT’ANNA

            Como todos os outros empreendimentos criados pela Companhia de Jesus nas terras de São Paulo de Piratininga, a fazenda Sant’Anna (para se utilizar a grafia da época), teve também seu quê de grandioso e utópico, já que também se utilizava da máxima de se criar uma civilização dentro de novos moldes, voltada para uma intensa religiosidade, buscando-se uma vida totalmente imersa nos preceitos cristãos. Para tanto, no papel de “habitante” dessa sociedade estava a figura do índio e, no de guardião da lei e dos bons costumes desta, o jesuíta.

            Na realidade o que se via era uma outra forma de se utilizar da mão-de-obra do índio (já que os mesmos trabalhavam, mesmo que de forma compulsória – e, em sua maioria, não forçada ou escrava); mesmo que estes tivessem também um mínimo de ensinamentos, para sua vida real, aquilo não lhes ajudaria muito, sem contar que, culturalmente falando, não era da índole do indígena da América portuguesa a sedentarismo (já que sempre haviam sido nômades na vasta região dos Campos de Piratininga). Por esse mesmo motivo, as brigas e disputas entre os bandeirantes apresadores e os jesuítas doutrinadores não tiveram trégua durante um bom tempo.

            A grande fazenda se estendia por vastas paragens e sua sede “... situava-se exatamente onde hoje se ergue o Quartel do Exército”. 4 Este é o atualmente chamado CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva), local bem privilegiado, já que se encontra numa colina natural de onde se avistava toda a várzea do Rio Tietê (de onde, por conseguinte, sempre se teria uma boa visão no caso de cheias). A fazenda “... foi doada aos jesuítas pelos herdeiros de Inês Monteiro, a ‘Matrona’, em 1673”. 5

            Outro personagem de nossa história (não mais do período colonial), que também foi proprietário desta fazenda, é o Patriarca José Bonifácio de Andrada e Silva, já que na “... época da independência do Brasil nela residiam os Andradas. [...] aí teria sido redigido [...], em dezembro de 1821, a representação [...] que teria contribuído para o ‘Fico’, do príncipe regente D. Pedro”. 6 Após ele, a grande fazenda foi vendida e começou a ser loteada, nos fins do século XIX, dando origem ao bairro de Santana.

UM HOMEM CHAMADO JOSÉ AROUCHE DE TOLEDO RENDON

            Em meados do século XIX, vamos encontrar uma São Paulo elevada a categoria de cidade (tendo também o título de “Imperial Cidade” outorgado pelo agora imperador D. Pedro I, devido ao fato de ter sido nela que ele veio a proclamar a Independência do Brasil, a 7 de setembro de 1822). O maior orgulho desta, nesse momento, era o de ter sido escolhida para ser detentora da honra de sediar uma Faculdade de Direito (juntamente com uma segunda cidade, Olinda, em Pernambuco). Esta foi inaugurada no dia 1.º de março de 1828 e teve como seu primeiro diretor o Tenente-General José Arouche de Toledo Rendon (sendo este o já aludido descendente direto de Amador Bueno, sendo seu quinto neto). Esse senhor tinha uma casa nas imediações do largo do São Francisco (na então chamada Travessa do Colégio – atual rua Anchieta), que tinha as rótulas (um tipo de janela da época), pintadas de verde.

            Como diretor da Faculdade de Direito, teve muitas rusgas com seu primeiro professor, o senhor José Maria de Avelar Brotero (o futuro Conselheiro Brotero, que deu depois seu nome a uma rua bem conhecida de São Paulo). O primeiro acabou também por comprar uma chácara, onde hoje se encontra o Largo do Arouche – cujo nome foi dado justamente devido a seu proprietário mais notório – onde fazia seus experimentos agrícolas, tendo sido, possivelmente, o primeiro plantador de café de São Paulo, tendo feito isso exatamente “... no sítio que possuía na margem direita do Tietê, conhecido como ‘Casa Verde’, e que iria dar nome ao bairro que se formou no local”. 7 É bom que se diga que no mesmo não havia, como sede ou outro tipo de edificação, nenhuma casa pintada na cor verde.

            É possível também que o mesmo tenha sido o pioneiro no plantio do chá, sendo dele as mudas que seriam plantadas numa chácara que existia no Vale do Anhangabaú (advindo daí uma das muitas particularidades de São Paulo, que tem como nome de uma das mais importantes construções no centro antigo da cidade Viaduto do Chá – isso na terra que sempre se coopta como “do café”).

            Adentrando agora o conhecimento de outra das peculiaridades dessa história, contarei como este diretor da Faculdade de Direito está envolvido com a denominação de Casa Verde dada àquela região da zona norte de São Paulo (não como já pode ter sido entrevisto por esse artigo acadêmico até o momento). 


AS MENINAS QUE DERAM NOME AO SÍTIO (E, DEPOIS, AO BAIRRO)

Contarei agora a história (e, por que não dizer, a lenda), do surgimento do nome “Casa Verde”. Já conhecemos José Arouche de Toledo Rendon, e, fato era, que este tinha também sete irmãs, cujos nomes são, pela ordem: “Dª. Ana Tereza de Araújo Rendon, Dª. Caitana Antónia de Toledo Lara e Morais, Dª. Pulquéria Leocádia de Toledo Rendon, Dª. Gertrudes Genebra de Toledo Rendon, Dª. Maria Gertrudes, Dª. Joaquina Luisa de Toledo Lara e Dª. Rudezinda de Toledo Rendon.” 8 Estas meninas eram também muito apreciadas e galanteadas pelos estudantes da Faculdade de Direito e eram por eles chamadas de “as meninas da casa de janelas verdes”. Como o Tenente-General também veio a se tornar dono de um sítio localizado na região do hoje chamado bairro da Casa Verde, os mesmos rapazes estudantes começaram a chamar também este de “sítio das meninas da casa de janelas verdes”. Com o passar do tempo (e com a incidência de uma daquelas corruptelas que toda língua vai adquirindo com o passar dos anos), o nome foi “abreviado” para “sítio das meninas da casa verde”, e daí para “Sítio da Casa Verde”, simplesmente. Já as protagonistas também auxiliaram muito para que o ocorrido se tornasse uma espécie de lenda urbana, visto que as sete irmãs nunca se casaram (não se sabe exatamente por quais motivos), sendo ainda, no fim de suas vidas, conhecidas de uma forma parecida: foram chamadas “... velhas da casa-verde”. 9

Quanto a sua transformação em bairro, propriamente dito, os próximos personagens que analisarei (e seus respectivos fatos históricos), são de primordial importância (visto que foram os últimos senhores do Sítio da Casa Verde). Estes formaram uma elite (e sendo que, para tanto, teremos de rever muitas das famílias envolvidas diretamente com os episódios que serão apreciados mais adiante), que em última instância, vão dar ao sítio sua derradeira atribuição, vindo para isso loteá-lo, dando o pontapé inicial para que a região viesse a se tornar o bairro que hoje conhecemos (e que agora analisamos).


OS ÚLTIMOS DONOS DO SÍTIO DA CASA VERDE


As terras da Casa Verde ficaram por muito tempo com os Rendon “... até que em 1857 a área foi comprada por Francisco Antônio Baruel (pai do famoso farmacêutico)”. 10; seu filho foi, portanto, o criador da Chimica Baruel, (fundada em 1892 e ainda hoje atuando comercialmente). O sítio foi vendido pelos Baruel a um comprador não tão conhecido assim, o obscuro “... tenente-coronel Fidélis Nepomuceno Prates”. 11 Algum tempo depois as terras foram dadas a uma empresa como parte do pagamento de dívidas.

Já se apresenta assim o derradeiro lance desta história: o momento onde o sítio sai de cena para dar lugar ao bairro. Iam, portanto longe os tempos da grande fazenda de Amador Bueno – que um autor diz saber o exato lugar de sua sede – precisando-a como devidamente assentada onde atualmente se encontra o “... cruzamento das ruas Zanzibar e Kiel, na Casa Verde Baixa, ponto, aliás, por onde passava o Tietê, três séculos antes de sua retificação”. 12 E, falando-se dos rios (tão abundantes na região – e que teve nestes córregos e rios pontos de demarcação naturais), também não tardariam as obras de loteamento, bem como as de canalização dos córregos e, principalmente, do próprio rio Tietê (cujas obras se aceleram durante a primeira metade do século XX, quando da implantação do sistema viário das marginais).

Foi somente em 1882 que as terras foram vendidas a João Maxwell Rudge – que substituiu o café e o chá, plantados por José Arouche de Toledo Rendon, por videiras – ainda utilizando-se das terras como sítio mesmo, tendo sido o último a mantê-las sem nenhum tipo de “retalhamento”. Quando o velho Rudge morreu, em 1897, seus “... filhos do primeiro casamento, Horácio, Olímpia, Ana, Luíza, e Paulina Vergueiro Rudge, decidem lotear o sítio...”. 13

Num lugar cujas histórias estão a tanto tempo enraizadas na memória popular (como é o bairro ora analisado), não é de se estranhar que tenha ocorrido algo como o que iremos relatar (e que servirá para finalizar a apresentação dessa breve história da Casa Verde); esta também será uma espécie de reafirmação de suas origens históricas (mesmo que de uma maneira um tanto quanto positivista), como veremos a seguir.

A FUNDAÇÃO DA VILA TIETÊ, OU MELHOR, CASA VERDE


Tem-se como data de fundação do bairro – portanto, a sua “data de nascimento” – o dia 21 de maio de 1913, já que foi neste dia que “... vendeu-se a J. Marques Caldeira, português, oficial de justiça, o primeiro lote de terreno, na rua João Rudge, lado par, esquina da rua Saguairú”. 14 Além do aniversário do bairro (que, portanto completou 105 anos, neste ano de 2018), nesta citação temos também o nome de seu fortuito primeiro morador. Mas, como teria sido a vida de J. Marques Caldeira no novo bairro? Com certeza não muito fácil, já que as principais comodidades do moderno urbanismo (como água encanada e energia elétrica, para citarmos poucos exemplos), foram chegando à Casa Verde de maneira bem lenta.

Um pouco antes, quando se estudava a implantação do loteamento para a criação do novo bairro, Horácio Vergueiro Rudge – o responsável dos irmãos-herdeiros, filhos de João Maxwell Rudge – veio a chamá-la de Vila Tietê. Porém, desde o início, o bairro “... apenas se conhece por Casa-Verde. A denominação Vila-Tietê subsiste tão só nos papéis oficiais. Era o baptismo popular demonstrando a sua grande e invencível pujança”. 15

Uma coisa que veio a melhorar a vida no bairro foi a construção da primeira ponte, sendo esta “... de óptima madeira de lei”. 16 Ela ficava muito próxima de onde está a atual Ponte da Casa Verde (esta de concreto, construída já em meados do século XX), mostrando que Horácio Vergueiro Rudge foi mesmo uma espécie de primeiro urbanizador da região.

Atualmente a Casa Verde está entre os bairros mais populares da zona norte (e de São Paulo). Fica a exatos oito quilômetros do centro da cidade, dentro dos seguintes limites: “Começa com a Ponte da Casa Verde, na Marginal do Tietê, fazendo divisa com Santana, pela Avenida Brás Leme e pelo Campo de Marte. Segue pela Avenida Engenheiro Caetano Álvares, onde faz divisa com o Limão. Por suas ruas pequenas limita-se também com a Vila Nova Cachoeirinha, com o Mandaqui e o Imirim. No cruzamento da Avenida Imirim com a Engenheiro Caetano Álvares [...] volta a fazer divisa com Santana”. 17

CONCLUSÃO

O bairro da Casa Verde é dos mais bucólicos de São Paulo, onde a vida ainda parece estar seguindo o curso de uma São Paulo ainda antiga, ainda rural, que continua a nos remeter a idéia de cidade do interior (devido justamente a este passado de sítios e fazendas – que foram mesmo os primórdios da história do bairro – e que parece continuar, de alguma maneira, no âmago de sua definição mais básica).

Mesmo com a extrema especulação imobiliária, que tem aumentado muito nos últimos anos (devido em muito à ótima localização do bairro, muito próximo do centro, como já dito anteriormente), e de suas vizinhas – e ainda grandes – reservas florestais, encontrados em bairros como Santa Terezinha, Horto, bem como também de sua pequena distância em relação a Serra da Cantareira (que em muito melhoram a qualidade do ar, ainda mais quando temos em vista essa São Paulo, tão poluída que nos é apresentada na atualidade).

Não é incomum que se encontre, dentre os moradores da localidade – muitos deles nascidos no próprio bairro (sendo que, dentre estes, não podemos excluir este que vos escreve, autor da pesquisa que foi utilizada para a elaboração deste artigo acadêmico) – os que dizem que não conseguiriam viver em outro bairro (ou região), da cidade de São Paulo.

Assim é a Casa Verde, esse típico bairro da Zona Norte, detentor de todas as muitas particularidades dos bairros da região norte de São Paulo, sendo que estas ocorrem justamente devido ao seu crescimento único – e “separado” do restante da cidade, em muito devido a suas terras estarem no além-rio – teve também uma história singular, desde o motivo de seu nome, até sua localização geográfica.

Espero ter contribuído para mostrar um pouco de toda essa singularidade histórica, fazendo com que as antigas memórias dessas paragens sejam mais conhecidas. Num país tão sem memória como o nosso este pode ser um bom começo.

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

·         LEITE, Aureliano. Pequena História da Casa Verde. São Paulo: Editora Elvino Pocai, 1939.

·         TORRES, Maria Celestina Teixeira Mendes. O Bairro de Santana. São Paulo: Departamento de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura do Município de São Paulo, 1970.

·         PONCIANO, Levino. Bairros Paulistanos de A a Z. São Paulo: Editora SENAC, 2001.

·         NUNES, Geraldo. São Paulo de todos os tempos. São Paulo: RG Editores, 2001.

·         TOLEDO, Roberto Pompeu de. A Capital da Solidão: Uma História de São Paulo das origens a 1900. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2003.


BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

·         TAUNAY, Afonso d’Escragnolle. História Seiscentista da Vila de São Paulo. São Paulo: Typografia Ideal, 1926-1929.

·         BRUNO, Ernani da Silva. História e Tradições da Cidade de São Paulo. São Paulo: Editora Hucitec, 1991.

·         PORTA, Paula – organização (vários autores). História da Cidade de São Paulo, v. 2: A Cidade no Império (1823 – 1889). São Paulo: Editora Paz e Terra, 2004.



SITES CONSULTADOS

·         Prefeitura do Município de São Paulo (área das Administrações Regionais), conforme link postado abaixo:

http://portal.prefeitura.sp.gov.br/subprefeituras/spcv/dados/historico/0001 acessado no dia 27/03/2008



CITAÇÕES



1 LEITE, Aureliano. Pequena História da Casa Verde. São Paulo: Editora Elvino Pocai, 1939, pág. 36
2 TOLEDO, Roberto Pompeu de. A Capital da Solidão: Uma História de São Paulo das origens a 1900. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2003, pág. 145
3 Idem, ibidem, pág. 168

4 TORRES, Maria Celestina Teixeira Mendes. O Bairro de Santana. São Paulo: Departamento de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura do Município de São Paulo, 1970, pág. 21

5 Idem, ibidem. pág. 17
6 Idem, ibidem. pág. 21
7 TOLEDO, Roberto Pompeu de., op. cit., pág. 355-356
8 LEITE, Aureliano., op. cit., pág. 21-22
9 Idem, ibidem, pág. 24
10 PONCIANO, Levino. Bairros Paulistanos de A a Z. São Paulo: Editora SENAC, 2001, pág. 53
11 Idem, ibidem, pág. 53
12 NUNES, Geraldo. São Paulo de todos os tempos. São Paulo: RG Editores, 2001, pág. 124-125
13 Idem, ibidem. pág. 125

14 LEITE, Aureliano., op. cit., pág. 108
15 Idem, ibidem, pág. 110
16 Idem, ibidem. pág. 109
17 NUNES, Geraldo., op. cit., pág. 126