Bandeira da cidade de São Paulo.
Bandeira da cidade do Rio de Janeiro.
É intenção deste artigo mostrar uma curiosidade sobre as duas maiores cidades brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro. E, sendo decorrentes de suas histórias, iremos analisar - e apreciar - algumas coisas relacionadas ao passado das mesmas (em especial, a momentos referentes à fundação das duas cidades). E, começando com uma dessas curiosidades, saibam que, por muito tempo, elas eram conhecidas por nomes um tanto diferentes, já que se chamavam, respectivamente: São Paulo de Piratininga e São Sebastião do Rio de Janeiro. Vamos aos fatos, portanto...
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São Paulo de Piratininga
A história da fundação da vila de São Paulo de Piratininga está, desde o início, ligada as vidas dos três personagens mais básicos da nossa colonização: os portugueses colonizadores, os jesuítas europeus e os indígenas. Isso porque, no decorrer do século XVI - no início da colonização portuguesa - as cidades foram todas sendo fundadas no litoral. No litoral do atual estado de São Paulo, já existiam, por exemplo, as vilas de Cananeia (1531), São Vicente (1532), e Itanhaém (1532). Porém, com a chegada dos jesuítas, em busca da sonhada catequização dos "gentios" (como chamavam os índios), começaram a notar que o contato com os portugueses havia corrompido os índios, tornando-os seres já não tão puros assim.
Sabendo da existência de um pequeno povoado, no topo da grande muralha de pedra, que era uma barreira natural - estamos falando da Serra do Mar, que naquele ponto chega bem próxima do litoral e do mar - e que havia pelo menos um europeu entre eles, o padre Manoel da Nóbrega, como líder, e alguns jesuítas, subiram o abrupto penhasco e, quando chegaram ao dito povoado - chamado, há época, de Santo André da Borda do Campo (sendo este "Campo" uma referência ao grande descampado que se estendia no topo da serra, um planalto que era chamado pelos indígenas de "Campos de Piratininga") - encontraram uma vila - mais para uma aldeia indígena - onde habitava um português, de nome João Ramalho, que havia chegado ao Brasil, segundo muitos dizem, antes mesmo de Pedro Álvares Cabral (possivelmente vindo dar no litoral do atual estado de São Paulo devido algum naufrágio). E, sendo que Ramalho já estava totalmente à vontade entre os índios, andando nu e sendo casado com diversas índias (dentre elas, Bartira, filha do cacique daquela aldeia), essas atitudes desse misterioso português logo foram de encontro com os rígidos desígnios dos jesuítas; porém, para conseguirem o que queriam - criar um povoado ali, no cume da serra, nos chamados "Campos de Piratininga" - eles necessitariam de algum tipo de apoio, tanto de João Ramalho, quanto de seus aliados indígenas (em especial, de seu "sogro", o cacique Tibiriçá). E lá foi o padre Manoel da Nóbrega e seus subordinados - dentre eles um noviço espanhol, recém-chegado, de nome José de Anchieta - fundar um colégio, para aulas de gramática, de matemática e, principalmente, de ensino religioso, aos seus alunos indígenas, convertendo muitos deles, inclusive o próprio cacique, mas sempre com dissabores, discussões e brigas com o também considerado chefe João Ramalho.
A fundação foi feita num pequeno morro, um platô de área quase triangular, entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí - o hoje chamado "Triângulo Histórico" - em 25 de janeiro de 1554, e nomeado como "Colégio de São Paulo" (já que o dia 25 de janeiro fora instituído pela Igreja Católica Apostólica Romana como sendo o dia da "Conversão de São Paulo a apóstolo"), dando, assim, o nome pelo qual a vila que foi se formando em seu entorno foi sendo conhecida. Porém, ela era chamada de "São Paulo de Piratininga", já que a própria região já tinha esse nome. Do tupi, "piratininga" quer dizer "peixe seco"; porém, não se sabe se esse nome veio do fato dos índios deixarem os peixes à secar, às margens do rio Tamanduateí, ou se era uma alcunha dada ao próprio João Ramalho - que pode ser considerado, por diversas razões diferentes, uma espécie de "patriarca" dos paulistanos e dos paulistas - já que os indígenas o viram chegar à praia, vindo do mar, num pequeno bote e, como não estava molhado, foi visto como um "piratininga", um "peixe seco". Seja qual for a origem do nome, através dos séculos ele foi sendo esquecido e a vila, a cidade, a capital do estado, e, por fim, a grande metrópole e megalópole, que foi se formando no entorno do antigo Colégio, é hoje conhecida, somente, pelo nome de São Paulo.
Porém, diferente do que aconteceu com o Rio de Janeiro - que já ganhara importância como capital desde o século XVIII - a São Paulo de Piratininga manteve-se, por um grande período de tempo, nada importante. Vir para essa "cidade" era como ser degredado - entre os séculos XVI e XVIII, e mesmo até o primeiro quarto do século XIX - ou como ser mandado para o fim do mundo. Era uma sociedade mais próxima do indígena que do europeu (é só ver a nomenclatura de locais da cidade, como Anhangabaú, Ibirapuera e Tietê, para citarmos poucos exemplos), e a cultura era a do caipira, essa mescla do português e do indígena. Somente do segundo quartel do século XIX, a cidade de São Paulo começa a ganhar importância, com a fundação de uma Faculdade de Direito e é nomeada a "Imperial Cidade" - devido ter sido em São Paulo, com o "Grito do Ipiranga", que ocorre a Independência do Brasil. E, no decorrer do século XIX começa a tornar-se de suma importância devido à lavoura cafeeira, e, já no início do século XX, se torna o destino de muitos imigrantes, que afluem à cidade para fazer parte de sua industrialização, mantendo - mais uma vez - São Paulo como uma espécie de capital financeira do Brasil.
Porém, diferente do que aconteceu com o Rio de Janeiro - que já ganhara importância como capital desde o século XVIII - a São Paulo de Piratininga manteve-se, por um grande período de tempo, nada importante. Vir para essa "cidade" era como ser degredado - entre os séculos XVI e XVIII, e mesmo até o primeiro quarto do século XIX - ou como ser mandado para o fim do mundo. Era uma sociedade mais próxima do indígena que do europeu (é só ver a nomenclatura de locais da cidade, como Anhangabaú, Ibirapuera e Tietê, para citarmos poucos exemplos), e a cultura era a do caipira, essa mescla do português e do indígena. Somente do segundo quartel do século XIX, a cidade de São Paulo começa a ganhar importância, com a fundação de uma Faculdade de Direito e é nomeada a "Imperial Cidade" - devido ter sido em São Paulo, com o "Grito do Ipiranga", que ocorre a Independência do Brasil. E, no decorrer do século XIX começa a tornar-se de suma importância devido à lavoura cafeeira, e, já no início do século XX, se torna o destino de muitos imigrantes, que afluem à cidade para fazer parte de sua industrialização, mantendo - mais uma vez - São Paulo como uma espécie de capital financeira do Brasil.
São Sebastião do Rio de Janeiro
A história da fundação da vila de São Sebastião do Rio de Janeiro tem algumas peculiaridades, como vocês verão no decorrer deste texto. Nela temos outros atores na ação e alguns que já conhecemos: os colonizadores portugueses e os indígenas, acrescidos de colonizadores franceses (como novos personagens da história). Bem, vamos à ela. Tudo começa em 1502, quando portugueses - mandados em uma missão de reconhecimento do imenso território, descoberto e tomado posse por Portugal há meros 2 anos atrás - encontram, no mês de janeiro de 1502, a "Baía de Guanabara" e, erroneamente, a consideram como sendo a foz de um rio, que foi batizado de Rio de Janeiro. Mas, como os portugueses ainda tinham poucos colonizadores no grande litoral do território recém descoberto (algum tipo de povoamento, ainda muito pífio, na região de Salvador, no atual estado da Bahia, e em São Vicente, no litoral sul do atual estado de São Paulo), os franceses - querendo entrar para o rol de Estados europeus descobridores e colonizadores de novas terras - estabeleceram um pequeno povoamento, em duas ilhas da "Baía de Guanabara", nas atuais ilha Villegaignon e ilha do Governador - na região da atual praia do Flamengo, dando o nome ao "empreendimento" de "França Antártica" (isso em meados do século XVI).
Foi quando, após a chegada do terceiro Governador-Geral português, Mem de Sá, em 1558, começou-se ações no sentido de estabelecer-se, de fato, na região da atual cidade do Rio de Janeiro. Une-se aos jesuítas e, contando também com o apoio de tribos inimigas. conseguem vencer os ferozes tamoios. Sendo estes últimos os principais aliados dos franceses, abre-se uma chance de expulsá-los da região de uma vez por todas. Para isso, Mem de Sá coloca no comando dos batalhões seu sobrinho, Estácio de Sá (que, assim, tem seu nome ligado à historia do Rio de Janeiro para sempre). Após muitas batalhas, entrincheirados próximos ao sopé do morro do "Pão de Açúcar", onde iniciaram as primeiras fundações para a cidade que ali estava se criando, à fundaram, oficialmente, no dia 1.º de março de 1565, sendo ela nomeada como São Sebastião do Rio de Janeiro, já com um padroeiro (até os nossos dias), para abençoá-la, bem como sendo também uma homenagem ao rei, Dom Sebastião I, então o rei de Portugal. Porém, devido à uma segurança mais concisa, o povoamento foi sendo transferido para a região do "Morro do Castelo", e, com isso, a cidade do Rio de Janeiro (como foi ficando conhecida, desde muito cedo, deixando o "São Sebastião" somente como padroeiro da cidade, mesmo), foi se formando no entorno desse morro - o que seria, atualmente, a região de Botafogo.
E a importância da cidade só foi crescendo, tornando-se o principal porto da colônia - para o escoamento do açúcar, depois do ouro vindo da região das "Minas Geraes", bem como o local de chegada dos escravos negros vindos da África - chegando a tornar-se a capital da colônia (desbancando a cidade de Salvador), em 1763 - tendo também se tornado a capital do império português, em 1808 (com a vinda da família real portuguesa para a sua colônia), bem como foi, também, a capital do Império do Brasil, após a Independência do Brasil, em 1822, mantendo-se capital do Brasil, após a Proclamação da República, em 1889, tendo perdido esse status somente em 1960, com a fundação de Brasília (e a posterior transferência do poder para esta nova capital). Ademais tudo isso, o Rio de Janeiro foi mudando muito no decorrer de sua história, tendo, como maior exemplo disso, o próprio "Morro do Castelo", que teve o castelo demolido, e o próprio morro, que foi sendo arrasado, escavado e transformado num grande aterro (como parte das mudanças urbanísticas ocorridas na cidade nos primeiros anos do século XX).
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E, cada uma a sua maneira, essas duas cidades mantiveram-se extremamente importantes para o Brasil, como capitais econômicas, políticas e turísticas, e que, cada uma a sua maneira, ditam muito do que o nosso país é (bem como, também, no âmbito internacional). Espero que tenham gostado dessa nossa viagem histórica, tanto quanto eu gostei de escrevê-la...
6 comentários:
O Morro do Castelo não ficava na atual região de Botafogo. O Morro do Castelo original se localizava no que hoje é a região do Castelo no Centro do Rio.
A batalha final contra os franceses foi marcada para o dia 20 de janeiro, por ser São Sebastião, dia do santo do nome do Rei de Portugal, Os portugueses venceram. Um dos dois ( Mem ou Estácio de Sá ) foi ferido mortalmente por uma flexa.
A partir daí, apesar de o o aniversário da cidade ser no dia 1 de março, comemoramos o feriado no 20 de janeiro, e creio que só então a cidade recebeu o nome do santo.
E a bandeira da cidade recebeu uma terceira flexa em homenagem ao libertador morto pela flexa.
A conferir! Ouvi de ilustre historiadora da cidade do Rio de Janeiro, peço ao Peninha para confirmar, pois se e assim, e tem lógica, é uma história lindíssima e cheia de significados, não é mesmo?
Bom, mesmo sem ter sabido o seu nome, agradeço a complementação de informações sobre o Morro do Castelo. Obrigado e continue a prestigiar o blog...
Poxa, muito obrigado pela complementação e por compartilhar essas novas informações conosco, Marta. E, pra mim, que sou paulistano, a pesquisa sobre as particularidades da fundação do Rio de Janeiro foram mais desafiadoras e reveladoras, mesmo!! Muito obrigado pelos adendos e continue a prestigiar o blog... Beijos!!!
O livro "1565", do Pedro Doria relata muito bem este período de nascimento do Rio.
Mesmo que o comentário seja de uma pessoa que manteve anônima - "Unknown" - fica aqui a dica de leitura do livro, "1565", de Pedro Doria, de nosso leitor. Obrigado pela complementação e continue a prestigiar nosso blog!! Abraços...
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