sexta-feira, 4 de maio de 2018

Os 50 anos do "Maio de 1968", em Paris


Estamos exatamente no período em que se completa os 50 anos das manifestações do chamado "Maio de 68" - já que estas ocorreram durante os dias 2 e 10 de maio de 1968, em Paris, na França. Assim sendo, é intenção deste artigo explicar o movimento, suas reivindicações, suas vitórias e derrotas, o porque de sua grande importância histórica e, em última instância, as suas repercussões (à curto e á longo prazo).


Para tanto, comecemos pelo início. A sociedade francesa era, nesse final da década de 1960, extremamente rígida e repressora, duas coisas que os jovens desse momento histórico não estavam mais suportando com tanta facilidade - e isso, não somente na França, mas também, por todo o mundo. E estas atitudes começariam a ser contestadas em pouco tempo...

Agora, analisando mais precisamente a França deste momento, ela estava sendo governada por um herói francês da Segunda Guerra Mundial, o general Charles De Gaulle, que foi quem comandou a Resistência francesa aos alemães (que haviam tomado a França, em 1941). Porém, os jovens franceses não o consideravam como seu herói (mas, sim, um "herói de seus pais"), e, sendo assim, todos os que participavam do movimento que se iniciava não consideravam que este governante os estivessem representando.

Tudo se iniciou em 2 de maio de 1968, quando os estudantes universitários - num primeiro momento os da Universidade de Paris, em Nanterre (uma cidade próxima à capital francesa), depois se estendendo para os estudantes de outras universidades, como os da Sorbonne (de Paris) - todos sob o "comando" (se é que podemos considerar que um movimento desse tipo tinha, realmente, um comando) - de Daniel Cohn Bendit (que era, à época, um dos estudantes universitários que o tomaram como líder [Ele é o rapaz loiro do centro da foto abaixo]). Porém, as manifestações estudantis foram reprimidas com muita violência pela polícia - e contra-atacadas pelos estudantes com uma violência bem proporcional à que a gerou (arrancando as pedras de calçamento para atirá-las nos policiais, por exemplo) - coisa que, ao invés de coibi-las, teve um efeito contrário, já que começou a dar ao movimento estudantil o apoio de muitas outras categorias (tais como: os operários, os professores de suas faculdades, a federação dos sindicatos, os artistas e as classes menos abastadas da sociedade francesa).


Isso só deu mais força ao movimento, que começou a exigir a renúncia do presidente Charles De Gaulle e, nos dias que se seguiram, a violência da polícia e a gana dos jovens manifestantes em manter o movimento só fizeram aumentar. As ruas próximas ao centro de Paris foram ficando cada vez mais sem as suas pedras de calçamento - arrancadas aos montes a cada investida da polícia sobre os estudantes - e as cenas de batalhas campais pelas ruas só cresciam, culminando com as batalhas ocorridas na noite entre 10 e 11 de maio (que ficou conhecida como a "Noite das Barricadas").


Mesmo pressionado, De Gaulle não se convencia a ceder às exigências, renunciando. Ao invés disso, ele convocou novas eleições e, mesmo com o apoio de uma boa parte da população e de partidos - como o Partido Comunista da França - foram os aliados do presidente que ganharam essas eleições (o que deu um gosto amargo de derrota aos jovens que tanto lutaram e persistiram durante as batalhas daquele "Maio de 68"). Mas, no ano seguinte, após um plebiscito (cujo resultado foi a derrota de suas propostas), o presidente Charles De Gaulle, finalmente, renunciou. 


Porém, a importância dos movimentos do "Maio de 68" não pode ser contestada, uma vez que, passados 50 anos do ocorrido, ele ainda é estudado e analisado, e podemos sentir seus ecos até os nossos dias, de diversos modos diferentes. Dentre eles, um capítulo a parte é a forma curiosa e criativa com que os jovens contestaram e exigiram mudanças. Dentre elas estão os cartazes - afixados pelos muros de Paris - e as pichações - com suas palavras de ordem, muitas vezes com o uso de um grande tom sarcástico. Dentre eles, alguns se tornaram clássicos do movimento, tais como: "Sejamos realistas, exijamos o impossível!", "A imaginação no poder!!", "É proibido proibir!!!" (que virou uma música de Caetano Veloso), e, uma das mais clássicas, "A luta continua!!!"...



Num primeiro momento, o movimento de "Maio de 68" foi derrotado e sentiu-se traído. Porém, à curto prazo - ou seja, já no ano seguinte - acabou conseguindo que a maior de suas exigências fossem cumpridas (mesmo que não da forma como haviam, inicialmente, pensado, uma vez que o presidente veio a renunciar depois de sua derrota no plebiscito). E, pelo mundo, naquele mesmo ano de 1968, o "Maio de 68" parisiense foi influenciando muitos outros movimentos políticos de jovens, tais como: as manifestações contra a Guerra do Vietnam e os movimentos pelos Direito Civis dos negros, ambos nos Estados Unidos da América, bem como a chamada "Passeata dos Cem Mil", ocorrida no Brasil, durante a Ditadura Militar (coisa que acabou levando os militares a "endurecer" ainda mais o regime). 




Mas é à longo prazo que podemos entender porque nós ainda falamos sobre estes fatos - mesmo após 50 anos deles terem ocorrido. Afinal, além de um movimento de contestação política, estes jovens mostraram novas formas e alvos de contestação que, até os nossos dias, são usadas em muitas manifestações por todo o mundo. E, além disso, essas manifestações mostraram que os jovens estavam num caminho rumo a muitas mudanças comportamentais (que foram sendo vistas nestes últimos anos da década de 1960, mas, principalmente, durante a década de 1970). Estas ficaram conhecidas como as "revoluções comportamentais" (dentre elas podemos citar a chamada "revolução sexual")...


E, terminando, podemos ver, até mesmo destes anos 2010, os ecos desses jovens, que foram - há 50 anos atrás - petulantes o bastante para questionarem os "status quo" de sua sociedade, tendo ainda reverberações muito atuais (e, dentre elas, podemos citar - até mesmo - os chamados "black blocks"). Em muitas localidades e pontos de nossa atual sociedade, os gritos de ordem daquelas semanas de "Maio de 68" ainda estão longe de se calarem...