Existem algumas particularidades em dois fatos históricos do Brasil, e estas estão ligadas aos lugares onde estes fatos ocorreram: São Paulo e Rio de Janeiro. E elas ocorrem de forma que os fatos se apresentam de uma maneira, digamos, inversa...
E, para explicá-las da melhor forma possível, nos utilizaremos de duas perguntas - que iremos aqui respondê-las - mostrando que essas particularidades inversas são, muitas vezes, desconhecidas por grande parte das pessoas.
Vamos à análise, portanto...
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1.ª) Pergunta: Por que a Independência foi vislumbrada no Rio de Janeiro - então a Corte, de onde o príncipe regente D. Pedro governava - mas foi pensada e concretizada mais longe, em São Paulo?
A principal resposta a esta pergunta está no fato de os principais aliados políticos de D. Pedro - quanto à ideia de declarar a Independência do Brasil - estarem na província de São Paulo (mais precisamente na região de Santos, no litoral sul do atual estado de São Paulo, e bem próximo a cidade homônima, sua capital). Estamos falando dos Andradas - mais especificamente, de José Bonifácio de Andrada e Silva (por isso mesmo conhecido como o "Patriarca da Independência") - que era muito conhecido e respeitado por D. Pedro e, mais ainda, pela então princesa Leopoldina. Devido o fato de se estar discutindo a independência desde o momento da "Revolução do Porto", em 1820, continuando-se com mais força após o "retorno de D. João VI" à Portugal, em 1821, José Bonifácio foi "costurando" uma aliança cada vez mais forte com D. Pedro e os membros da Corte que compactuavam em se dar um "start" ao processo de Independência. E, por fim, houve também uma coincidência. E ela é o fato de, numa viagem anterior de D. Pedro à São Paulo, este ter conhecido - e, segundo alguns, apaixonado-se - uma senhora, sendo ela: Domitila de Castro do Canto e Melo (a futura "Marquesa de Santos"), fato que fez das viagens do príncipe regente à São Paulo algo quase corriqueiro. Sendo assim, após uma visita à província de São Paulo - para reuniões que visavam, justamente, tratar sobre a futura (e, cada vez mais, certa), Independência do Brasil - quando da viagem de retorno ao Rio de Janeiro (que tinha de ser feita via cidade de São Paulo), e após a chegada à Corte, no Rio de Janeiro, de cartas das Cortes, de Portugal, que exigiam o retorno do príncipe regente à Lisboa (cartas estas enviadas por Dona Leopoldina, e endossadas por José Bonifácio), levando D. Pedro a - depois de lê-las, e num acesso de fúria - cortar os laços com sua terra natal, e proclamar a Independência do Brasil ali, onde estava (durante o retorno da viagem à Santos), após o término da subida da Serra do Mar, nas imediações do atual bairro paulistano do Ipiranga (às margens do Riacho do Ipiranga), no final da tarde de 7 de setembro de 1822, tornando, assim, a ainda pequena cidade de São Paulo em uma "Imperial Cidade" (logo após a sua coroação como imperador), título que ela tem até hoje (mesmo que seja pouco lembrado nos nossos dias).
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2.ª) Pergunta: Por que a República foi primeiramente pensada em São Paulo - por barões do café paulistas e profissionais liberais - mas foi proclamada numa "quartelada", liderada pelo Marechal Deodoro, no Rio de Janeiro?
Já com relação à Proclamação da República, o que ocorre é o inverso, já que a República é algo que é primeiramente pensada entre a elite letrada dos barões do café paulistas (e depois replicada junto à grande população de profissionais liberais, como advogados, professores e jornalistas), e que culmina com a chamada Convenção de Itu, em 1873, a primeira convenção republicana feita no Brasil - a qual resultaria na criação do "Partido Republicano Paulista" (PRP), no mesmo evento - sendo este o embrião da própria república brasileira. Porém, como havia várias vertentes de república nesse período, tais como: os que queriam aguardar a morte do imperador D. Pedro II para tomar o poder, os que queriam chegar ao poder pelo voto (com um plebiscito), e até os que queriam tomar o poder derrubando o imperador, matando-o e assassinando toda a família imperial; e, devido mesmo a esta divergência de ideias - muito comum, por sinal, na implantação de repúblicas - pode-se dizer que os republicanos eram bem pouco (ou quase nada), coesos. E, por estas inconsistências ideológicas, a república brasileira não caminhava de forma muito ampla, já que algo primordial à sua existência - a doutrina republicana junto ao povo - simplesmente não aconteceu. Vai daí o fato de - no Brasil - a República ter sido proclamada não em São Paulo (seu berço ideológico), mas sim, no Rio de Janeiro (ou seja, a Corte, sede do governo imperial, bem como onde os militares, que foram, aos montes, cooptados para a causa republicana, se encontravam em maior número), sendo muito mais um golpe de Estado (perpetrado pelos militares descontentes com a Monarquia, e liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, que era - Pasmem!! - grande amigo do imperador). Advém disso tudo a tônica da Proclamação da República no Brasil, resumida brilhantemente numa reportagem de jornal do dia 16 de novembro de 1889 (dia seguinte à proclamação): "O povo assistiu bestializado à proclamação da república..." (já que a maioria da população não sabia o que estava acontecendo, muitos achando que se tratava de uma parada militar). Quem sabe seja por isso que a República - até hoje - não seja um "caso de amor" entre muitos dos brasileiros...
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Aproveito para mostrar - com acesso pelo link abaixo - um outro artigo onde São Paulo e Rio de Janeiro são as protagonistas (e que faz referência à origem dos nomes destas duas cidades), sendo este, também, parte integrante do acervo do blog "Histérica História":
Espero que a ideia desse artigo - ora apresentado - tenha ficado bem clara, visto não ser estes fatos analisados comumente sob este prisma. E até um próximo artigo...
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