quarta-feira, 14 de junho de 2017

VERDADES E MENTIRAS SOBRE A ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO

Um dos fatos históricos do Brasil mais mal explicados (e, por isso mesmo, mais cheio de meias verdades, ou mesmo, mentiras puras e simples), é o da Abolição da Escravidão. Sendo assim, o que tentaremos fazer neste artigo é expor - e separar - um pouco dessas novas verdades e velhas mentiras. Vamos lá, então...

* Uma das maiores vergonhas do Brasil é a de ter sido o último país a abolir a escravidão. E, pior: isso não se deveu à bondade da Princesa Isabel (que, pelo "feito", ganhou a alcunha de "A Libertadora"), porém, e isso já é público e notório, o real motivo foi o fato do Imperador Dom Pedro II estar sendo extremamente pressionado por sua aliada, a Inglaterra, para acabar com a escravidão, já que ela não era condizente com o novo sistema econômico, o capitalismo industrial, onde era necessário que os braços dos trabalhadores fossem assalariados (para que estes pudessem comprar os produtos industrializados, na maioria importados da própria Inglaterra). E, como sabiam que quando isso fosse feito, a própria Monarquia estaria perdida, Dom Pedro II, estando numa viagem ao exterior (por motivos de saúde, como se alegou na época), deixou para a filha, a então princesa regente, o encargo de assinar a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888.


 















* Justamente por saberem que a abolição seria um "tiro no pé" da própria Monarquia, já que os fazendeiros escravagistas era um dos pontos do "tripé" que sustentava o imperador Dom Pedro II no poder (e mesmo estando pressionado pela poderosa Inglaterra), o governo resolveu "ficar em cima do muro" e começou a legislar visando demonstrar sua conivência à favor da cartilha dos ingleses, mas sem deixar os fazendeiros muito irritados. Para isso, se utilizaram de algumas leis anteriores à Abolição, mostrando assim que a direção era acabar com a escravidão (mas de maneira bem devagar). A primeira delas foi a chamada Lei do Ventre Livre, posta em prática à partir de 28 de setembro de 1871. Foi, na realidade, um tremendo embuste, já que os negros nascidos à partir dessa data eram considerados livres, porém ficavam à disposição dos fazendeiros donos dos negros, pais dos rebentos que seriam - ao menos teoricamente - livres, ainda ficariam sob a guarda legal dos donos de seus pais, ainda escravos. Ou seja, foi, literalmente, uma lei "pra inglês ver"...


E, quando a situação já estava beirando o insustentável - no Brasil, mas, principalmente, no mundo - o Império do Brasil tentou uma última cartada tentando assim ganhar mais tempo. E essa cartada foi a abominável Lei dos Sexagenários, aquela que concedia a liberdade aos escravos que completassem os 60 anos de idade. Ora, se essa idade já era difícil de ser alcançada, mesmo pelos trabalhadores brancos no Brasil do século XIX, imagine pelos escravos, que tinham nos 40 anos (quando trabalhavam na lavoura), ou, quando muito nos 50 anos (quando eram escravos urbanos), a sua expectativa de vida. Essa ridícula lei foi perpetrada e assinada em 28 de setembro de 1885, já bem próximo do fim do jogo da escravidão.


Outro fato sobre o tema da Abolição que é muito pouco divulgado é que a abolição dos escravos ocorreu antes no estado - então província - do Ceará. Ela foi proclamada por uma lei de 25 de março de 1884, quatro anos antes da Lei Áurea. Isso se deveu a vários fatores, porém o que mais deve ter pesado na decisão foi a economia local, extremamente pecuarista, e que, por isso mesmo, não necessitava tanto de braços como no restante do país, que era bem mais agrário.


É bom que se diga que a escravidão, ocorrida no Brasil desde os tempos de Colônia e mantida mesmo após a Independência e durante o período Imperial, acabou por trazer uma carga extremamente maléfica para a nossa sociedade, vide o fato de considerarmos pejorativo todo o tipo trabalho braçal. Outra pesada aura que paira sobre nosso país é o racismo, de todos os tipos, mas prevalecendo o pior deles: o racismo velado, aquele que, sob os auspícios de uma inocente brincadeira, ataca a humanidade de outro ser humano tão somente por sua cor, algo deprimente e, por que não dizer, antigo demais...


5 comentários:

Unknown disse...

Em relação ao racismo velado, depende. Tenho amigos que me chamam de neguinho, amigas que me alcunham de pretinho chocolate, e nem por isso considero preconceito, então essa questão de racismo velado é muito subjetivo.

Histérica História disse...

Concordo! É mesmo!! Daí ser tão difícil discernir nos casos, já que é uma linha muito tênue que separa o que é e o que não é...

Ed Leal disse...

Faltou dizer que a familía imperial era contra escravidão, todos os seus empregados que na maioria eram negros ganhavam salário!

Histérica História disse...

Ótima complementação, Ed Leal. Porém, mesmo não concordando, foi conivente. Na realidade, Dom Pedro II sabia que, ao abolir a escravidão, atentaria contra a própria Monarquia. Não por acaso, a República foi proclamada no ano seguinte à Abolição!!

Anônimo disse...

Completamente equivocado. É preciso que releiam a história sem os paradigmas contemporâneos e sobretudo sem armas nas mãos ou tapa olhos. Abram o peito pra verdade e enquanto essa revisão REALISTA com base em dados e fatos que raríssimos os historiadores e afins que foram em busca daquilo que de fato houve e não o que querem acreditar que tenha havido. Pra início de conversa, é de uma falta de raciocínio lógico - que chega a parecer preguiça de se aprofundar, ou medo da desconstrução que terão que fazer - isolar e ficar martelando em cima da questão de o Brasil ter sido o último país das americas a abolir a escravidão e portanto seria um país mais escravocrata que os demais. ERRO!! O Brasil é o único país das americas onde o movimento abolicionista foi um planejamento a longo prazo a começar pela sensatez dos próprios abolicionistas. Desde a década de 30 do século XIX o Brasil se organiza em mais de uma centena de organizações, associações institucionalizadas e pela causa abolicionista. Dessas organizações faziam parte todas as camadas da sociedade. O Império do Brasil, que começa com a independência e termina com o golpe da República, era um sistema de governo Constitucionalista e parlamentar. O que isso significa? Significa sobretudo democracia. O imperador exercia tão e somente o poder moderador que não governava, mas mediava situações de conflitos entre os poderes constituídos. A família imperial brasileira, DPedroII, Princesa Isabel, e todos os demais, nunca tiveram escravos, sabiam disso? Sabiam ainda que todo um planejamento de engenharia social desenvolvido essencialmente por André Rebouças - negro , engenheiro reconhecido internacionalmente- minuciosamente traçado, amadurecido, preparado estava em fase de implementação quando do golpe militar que chamam de proclamação? Sabiam que o Império iria indenizar os libertos? Sabiam que a eles seriam destinadas frações de terras já pré-estabelecida? E pra escrever um livro inteiro, em síntese, quem deu o golpe militar que chamou proclamação de uma república que nasceu e permaneceu decadas e mais décadas sob a espada militar e de quem?? Quem travava a assinatura da Lei que não dependia da vontade do imperador, mas da aprovação do Senado. O imperador não tinha poder de decreto. A República passou a ter. Enfim, retomando o que e quem travava? Toooda uma ala do Senado composta majoritariamente de senhores de engenho. Que sequer produziam mais, mas se negavam a libertar sem restituição do que eles haviam investido nos escravos. E dou nomes, sabe o que o Barão de Cotegipe - um proprietário de latifúndios na Bahia e declaradamente anti abolicionista disse à Princesa Isabel quando o Senado finalmente aprovou a lei?? " a senhora libertou uma raça, mas perdeu o trono "...