sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Os 50 anos da Primavera de Praga


No emblemático e incendiário ano de 1968 o mundo passava por um período de rebeliões, protestos e tentativas de rupturas com o "status quo" vigente (e isso em diversas partes do mundo). Sendo assim, nesse artigo vamos revisitar um desses eventos - ocorridos entre janeiro e agosto de 1968 - em Praga (então capital da Tchecoslováquia, já que estes dois países - a República Tcheca e a Eslováquia - formavam um só país, tendo isso sido imposto pelos ganhadores da Primeira Guerra Mundial, ainda em 1918). E, quando os soviéticos foram tomando os países do Leste Europeu, durante sua corrida "libertária" rumo à Alemanha nazista, em 1944, durante os últimos momentos da Segunda Guerra Mundial, a Tchecoslováquia também acabou entrando na "conta"

Após, o término da guerra, nos passos iniciais da própria Guerra Fria, a Europa acabou dividida - como um espólio de guerra - entre os dois lados vencedores, ou seja, a Europa Ocidental (o Oeste Europeu), ficou sob a liderança capitalista dos Estados Unidos da América [os E.U.A.], e de seus aliados europeus, que eram a Inglaterra e a França, enquanto a Europa Oriental (o Leste Europeu), ficou como se seus países fossem "territórios satélites", orbitando sua "estrela-mãe", a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas [a U.R.S.S.], vindo daí a expressão cunhada pelo primeiro-ministro inglês, Winston Churchill: "Uma 'cortina de ferro' caiu por sobre o Leste Europeu.", designando, assim, a área europeia sob influência soviética.


E, assim sendo, durante os anos que se seguiram, essa influência soviética só fez aumentar nessa região. E, como haviam grupos de oposição à essa hegemonia soviética na região do Leste Europeu (com graus diferentes de força e de determinação), foram ocorrendo movimentos que visavam acabar ou minimizar com a influência dos soviéticos. O primeiro deles a ter uma grande divulgação - inclusive na Europa Ocidental - foi a tentativa da Hungria de uma distensão do comunismo instaurado por lá (isso ainda em 1956). Esse movimento foi "esmagado" pelos soviéticos sem a menor preocupação em manter aparências de legalidade - ou algo desse gênero - por Nikita Khruchtchev, que enviou tanques e soldados para mostrar quem, efetivamente, mandava no país...


Depois do resultado da tentativa húngara, o Leste Europeu ficou mais de uma década em um silêncio resignado, sendo que somente após a troca do poder na União Soviética - com a subida ao poder de Léonid Brejnev - em 1966, que outra tentativa se deu. Porém, o sucessor de Khruchtchev acabou se mostrando mais aguerrido ainda à defesa da posição soviética na Europa. É o que ficou bem claro com a tentativa de abertura política do socialismo na então Tchecoslováquia, dirigida àquela época pelo comunista moderado Alexander Dubcek (que ficou conhecida como a Primavera de Praga).


Ela se iniciou em 5 de janeiro de 1968, quando o líder eslovaco, Alexander Dubcek, tentou impor - logo após sua subida ao poder - algumas reformas ao sistema político socialista da Tchecoslováquia. E, como era óbvio de se pensar à época, a União Soviética não gostou nem um pouco dessas ideias reformistas de Dubcek. Porém, após as atrocidades cometidas durante a invasão da Hungria, em 1956, os soviéticos não queriam mais publicidade negativa e, dessa maneira, tentaram uma outra maneira de lidar com esse novo fato.


E, mesmo que o novo líder soviético, Léonid Brejnev, também tenha enviado tanques à Praga, estes não entraram em ação tão prontamente como na ação ocorrida na Hungria, mais de uma década antes. Na realidade, o que aconteceu foi uma grande "queda de braço" entre Léonid Brejnev Alexander Dubcek, - com uma visão mais aberta dos acontecimentos, por parte do Ocidente, o que ajudou a minimizar a resposta soviética (coisa que não ocorreu quando da tentativa húngara, em 1956) - tendo ela se estendido por boa parte do ano de 1968. Durante o processo da chamada Primavera de Praga, Dubcek tentou transformar o comunismo na Tchecoslováquia em algo mais parecido com uma "social-democracia", abrindo as portas de sua economia aos países capitalistas, bem como dando mais liberdade aos tchecoslovacos e sua sociedade...


Porém, mesmo que de uma forma menos drástica e por um período mais longo que na sua predecessora (a Hungria), a tentativa tchecoslovaca também esbarrou no intransigismo soviético (que não queria nenhum tipo de abertura, política ou econômica, em seus países "aliados" do Leste Europeu). Dubcek foi chamado a Moscou, encontrou-se com Brejnev e, após "negociações", o dirigente tchecoslovaco voltou ao seu país já desempossado de seu cargo (o que ocorreu em 21 de agosto de 1968, com tanques de países aliados ao Pacto de Varsóvia), acabando de vez com as reformas pretendidas.

  
Esmagada, como o levante da Hungria (em 1956), - com a diferença que a ação na Tchecoslováquia foi mais branda e teve consequências menos drásticas ao país - o Leste Europeu ainda teria de esperar mais 21 anos para conseguir se desvencilhar da influência soviética nos países que o compõem (coisa que só ocorreria em 1989, com a Queda do Muro de Berlim). Mas aí já é outra História!!...


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